O papa Francisco deu um verdadeiro “show” de fé e esperança em sua primeira viagem internacional, realizada em nosso país. Chegou mais perto das necessidades do nosso povo, se comparado aos seus antecessores, o carismático João Paulo II e o tímido Bento XVI. A nacionalidade argentina pode tê-lo beneficiado no contato com os brasileiros. Mas as coisas que aqui fez, disse e pregou vão além da identidade cultural, mexendo com a alma. O dispensar do carro blindado - a que chamou “caixa de vidro” - e a busca do contato direto com o povo fizeram a diferença e, mais que isso, deverá calar como exemplo da necessidade da convivência entre pastor e rebanho, dentro da simplicidade e da sinceridade. Isso serve tanto para os religiosos de todos os credos quanto é crucial aos detentores do poder político e social. Francisco fez questão de pregar certa forma de ecumenismo, ao dizer que se há um necessitado, o que menos importa é se seu socorro vem de católicos, protestantes, ortodoxos ou judeus, desde que seja socorrido. Pregou que o jovem tem de ser “revolucionário”, aproveitando a energia de sua idade e até a falta de experiência para buscar seus ideais. Falou outras coisas que empolgaram e calaram fundo nos jovens católicos de todo o mundo que o acompanharam em jornada e sensibilizaram toda a comunidade que o assistiu através dos meios de comunicação. Não se esquivou nem de temas delicados como a pedofilia e os escândalos financeiros no Vaticano. De volta a Roma, durante o vôo, deu uma entrevista de 1h22 aos jornalistas que o acompanhavam. A visita constituiu-se numa verdadeira festa e deu um “refresco” ao governo, acossado pelas manifestações do “Acorda Brasil”. O “gigante” manteve-se relativamente calmo e refletindo nos dias da visita papal. Mas é certo que nos próximos dias as reivindicações, agora revigoradas, estarão novamente em pauta. Vivemos agora o pós-visita. É a hora dos operadores da igreja católica romana - padres, ministros e lideranças - refletirem profundamente sobre o que disse o “chefe” para, com isso, poderem ajudá-lo a colocar a instituição no novo contexto. As demais operantes religiões, por ele citadas e conclamadas, também não deverão ficar alheias, já que o convite é de paz e união para um mesmo objetivo. Independente de suas diversidades rituais, todas perseguem e comungam com a mesma finalidade de paz e fraternidade e, se puderem trabalhar juntas ou na mesma direção, será mais fácil. Governo e detentores de lideranças da sociedade também devem refletir muito sobre o que disse e, principalmente, o que praticou Francisco nesses breves dias que permaneceu no Brasil. Sua opção pela simplicidade deveria ser seguida por todos, especialmente aqueles cujos postos se sustentam pelo dinheiro público. Jatinhos, carrões, festas e mordomia devem ser evitados. A corrupção tem de ser combatida e os recursos que sobrarem aplicados em serviços ao povo. Essa é a grande reivindicação que vem das ruas. Se tudo aquilo que Francisco aqui disse não servir de reflexão (e ação), sua visita terá sido em vão... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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