Os inconcebíveis malfeitos na administração pública e ao seu redor, que tanto transtornos causam à população, comprometem em muito a imagem de governos e governantes. A sociedade, indignada e sem rumo, não consegue se esquecer e nem perdoar coisas como o mensalão, dinheiro na cueca, sanguessugas e dezenas de outras irregularidades ocorridas no seio político-governamental. Agora, a bola da vez é a escandalosa denuncia do cartel do trem, onde agentes públicos teriam recebido propinas e desviado vultosas somas. Os sucessivos acontecimentos demonstram que a maior parte do mal está no nefasto loteamento político da administração pública. Os governantes distribuem os cargos para aqueles que lhes interessam eleitoralmente ou garantem maioria legislativa, transformando-se em seus reféns. E, para turvar ainda mais o ambiente, há o arraigado mau hábito de denunciar os adversários com o objetivo de, com isso, desviar o foco dos reais problemas e ainda se obter dividendos políticos. Teria ficado menos penoso para as instituições e até para os denunciados – hoje condenados – se, de pronto, o governo tivesse apurado a acusação de desvio de recursos públicos e levado os responsáveis pelo mensalão a se explicarem e promoverem as devidas reparações. O caso dos sanguessugas, onde parlamentares e outras pessoas foram acusadas de desviar verbas da saúde, teria tido melhor conclusão se as partes não tivessem agido corporativamente. Como esses dois casos pontuais, muitos outros restaram mal explicados, seus integrantes e até os governos com a imagem manchada. Agora vemos o problema do transporte ferroviário em São Paulo a exigir clareza por parte do governo estadual. A reforma política que se pretende estabelecer no país precisa encontrar um meio de preservar a administração pública, tornando-a imune aos escândalos que os interesses políticos, muitas vezes subalternos, produzem. Não podem os governantes, que exercem o mandato sob delegação direta do povo, governar apenas para seu grupo político e, principalmente, usar o cargo para acobertar malfeitos. Toda vez que eclode um escândalo administrativo, o governante deveria em primeiro lugar apresentar os responsáveis pelo problema e exigir as devidas explicações. Com esse procedimento, os errantes potenciais pensariam muito bem antes de cometer qualquer falta e o governo, como instituição, estaria preservado. Afinal, o governo não erra; quem erra são os homens. Outra coisa é a apuração completa e transparente com a punição aos errantes e, se for o caso, aos produtores de denúncias que se comprovem inverídicas. Muito da má avaliação que hoje pesa sobre a classe política é decorrente da promiscuidade político-administrativa e da falta de clareza e apuração dos problemas que, frequentemente, por diferentes razões, são levados ao noticiário em forma de escândalo. Para o bem da nação e a saúde da democracia, nada deve ser varrido para baixo do tapete e nem os errantes, por mais privilegiados que sejam, podem ser cobertos com o manto da impunidade... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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