Não é uma queixa, é apenas uma constatação. Se meus quinhentos e cinquenta amigos do Facebook comprassem um exemplar de meu último livro e o indicasse a mais dez amigos não-comuns, eu chegaria a 5.500 exemplares vendidos rapidamente. Se esses amigos dos meus amigos fizessem a mesma coisa, e assim sucessivamente, as vendas cresceriam em escala exponencial. No entanto, estou perto de 350 livros vendidos, apenas. Não é um resultado ruim, afinal ainda estou no início de minha carreira literária e sou de uma cidade do interior onde esse tipo de atividade não é tão valorizado. Mas está longe de ser um resultado excepcional. Isso me faz trabalhar com algumas suposições: - talvez eu não seja a boa escritora que acredito ser; - as pessoas não gostam de ler; - as pessoas preferem escritores famosos, principalmente os estrangeiros; - as pessoas acham bobagem gastar dinheiro com livros, preferem gastar com cosméticos, perfumes, roupas, sapatos, acessórios etc.; - as pessoas não têm tempo de ler, porque trabalham demais ou, se não trabalham tanto, gostam mais de assistir à tevê ou de ficar todo tempo disponível navegando na internet; - por último, e principalmente, eu não pude contar com uma boa estratégia de marketing. E. L. James, autora da Trilogia Cinquenta Tons de Cinza, vendeu milhões de exemplares no mundo inteiro. Não acho que ela escreva melhor do que nossas brasileiríssimas e queridas Lya Luft e Martha Medeiros, as maiores escritoras da atualidade (porque Clarisse Lyspector não está mais entre nós). E eu, modéstia à parte, sei que escrevo bem direitinho, apesar de não ter formação em Letras, Literatura ou Jornalismo (minha formação acadêmica é Ciências Biológicas). Por que então E. L. James se tornou uma “grande escritora” de repente? Nove, em cada dez mulheres no mundo leram seus livros. Algumas amaram, outras nem tanto, mas a verdade é que a história da doce Srta. Anastacia Steele e do estonteante Sr. Christian Grey, é o assunto preferido nas rodas femininas (acredito que nas masculinas também). E lá vem o filme por aí. Aguardem. Acho que tenho alguns palpites: Primeiro: a autora não é brasileira. Sua biografia de orelha diz que ela é ex-executiva de TV e mora em Londres. De um modo geral, o brasileiro acha que o que é importado merece maior valor. Segundo: ela é contratada de uma grande editora que sentiu cheiro de grana alta quando, num site da internet, descobriu uma versão em capítulos desta história publicada pela autora com personagens diferentes e sob o título Master of the Universe. Terceiro: é uma história de sexo. Muitas pessoas, por mais que tentem passar uma imagem puritana, adoram pensar em sexo, fazer sexo, falar de sexo, enfim, sexo é o que há. Nada desperta mais a curiosidade das pessoas quando o assunto é sexo, em qualquer idade, em qualquer cidade. Ainda mais que o livro prometia altas doses de adrenalina, torturas, dores, gritos, urros, chicotes, enfim, e tem muita gente que adora um sadomasoquismo. Não é a minha praia, mas há gente que só sente prazer desse jeito. Cada um é cada um. Não estou aqui pra julgar ninguém. Cada um sabe o melhor jeito de chegar a um orgasmo (ou a vários). Não sou hipócrita a ponto de dizer que algumas partes dos dois primeiros livros (o terceiro ainda não li), não mexeram com minha imaginação e libido. Claro que sim. Porém, achei pouco conteúdo para tanto alarde e sucesso. É aí que entra o quarto palpite e talvez o mais importante: a Trilogia Cinquenta Tons de Cinza é um fenômeno literário porque é o resultado de um dos maiores trabalhos de marketing editorial dos últimos tempos. Daí, a minha conclusão: para ser um(a) grande escritor(a), não basta talento, também é preciso ser um bom estrategista de marketing. Ah, e amigos que não se limitem a lhe desejar sucesso, mas passam longe da calçada da livraria.
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