A solidariedade e o zelo pelo bem comum são indispensáveis a uma adequada organização da vida social. Pela solidariedade as pessoas se comprometem, sólida e reciprocamente, umas com as outras, reconhecendo que o bem de cada uma depende do bem da outra (a questão ecológica exemplifica essa realidade no âmbito planetário). O bem comum estabelece a finalidade das ações políticas e as orienta para a superação dos egoísmos individuais e coletivos (onde a política fracassa é porque os egoísmos se impuseram). De fato, as coisas começam a se complicar e surgem desordens de toda espécie quando as instituições não conseguem controlar os grupos que, tendo em vista apenas seus próprios interesses, agem, dentro da sociedade, em oposição ao bem comum. Isso ocorre no circuito vulgar da delinqüência e do crime organizado ou em várias e sofisticadíssimas formas de burlar e prejudicar aos demais para benefício pessoal ou grupal. Em qualquer desses casos, todos os outros passamos a ser tratados como se fôssemos (e a nos sentir como sendo) reféns de tais grupos e de seus interesses. Não sou dos que absolvem ou atenuam a culpabilidade dos criminosos pela suposta condição de "produtos ingênuos" de uma estrutura que os excluiu do círculo venturoso onde se preza o bem e se rejeita o mal. Seqüestradores, assaltantes, assassinos ou estupradores detestam ser seqüestrados, assaltados, assassinados ou estuprados. Mesmo as consciências mais deformadas compreendem o desconforto de suas vítimas. Pela mesma razão discordo dos individualistas que sustentam a existência de um "direito" de não ser solidário: todos sabem pedir socorro. Portanto, o rigor que se exige das autoridades em relação aos criminosos deveria ser cobrado, também, para inibir a ação de quantos, por posição privilegiada na vida social, burlam os mecanismos de mercado, promovem greves que contrariam profundamente o bem comum, manipulam a opinião pública (e por essa via controlam a política), lançam sobre os ombros da sociedade privilégios auto-concedidos, organizam-se sob a alcunha de movimentos sociais para violar princípios constitucionais e praticar atos criminosos. Nenhum desses brutamontes do capital, do sindicalismo, do corporativismo, da comunicação e da política apreciaria ser vítima daquilo que faz. E todos somos tão seqüestrados por tais grupos como se estivéssemos sob a mira de suas armas, negociados por dinheiro. Nota do Editor: Percival Puggina é arquiteto, político, escritor e presidente da Fundação Tarso Dutra de Estudos Políticos e Administração Pública.
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