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Opinião
08/08/2013 - 17h09
A corrupção é inerente ao brasileiro?
Amadeu Garrido de Paula
 

A resposta é corrosiva para a nação. O tema foi posto no periódico espanhol El País. Decorreu de ilação de uma declaração feita pelo Ministro Luiz Eduardo Cardozo: a corrupção é fenômeno mais profundo, não se resume às graves agressões dos políticos e cúmplices à coisa pública. Coisa do tipo lulista, quando nosso ex-presidente declarou, face ao mensalão, que a política é assim mesmo. Um cidadão brasileiro reagiu à matéria com desilusão profunda: se assim é, não vale a pena a luta por nossos netos. O Ministro diz que a questão é digna de estudos.

Machado, com as luzes que penetravam no âmago dos homens e dos povos, lançou um princípio: a ocasião faz o furto, o ladrão já nasce feito. Rousseau e Hobbes. Sem um prevalecer sobre o outro. Nosso maior literato conhecia as mutações da vida.

O Ministro pendeu a um determinismo. Todos são assim. Seu hierarca já emitira o raciocínio, quando estava na França, sob o mensalão: política é assim mesmo. Logo, tudo se justifica. Até o estupro. Afinal, os homens não foram feitos com forte propensão sexual? Freud não sustentou que a sublimação civilizatória os privou dessa liberdade e os neurotizou?

Generalizar as perversões de alguns poucos para toda uma etnia é conduta covarde. Desestimula as virtudes e faz de uma nação uma horda de sicários depositados numa vala comum.

Sabe-se que não é assim. A mutabilidade é da essência de tudo quanto existe no universo, a partir dos fenômenos cósmicos. Nada permanece para sempre ou morre, tudo se transforma constantemente, no conhecido aforisma de Lavoisier, que o culto Ministro conhece, mas com certeza fez por ignorar.

O jornal espanhol exprimiu exatamente essa opinião. Seu exemplo da incorreção da elucubração ministerial foram as jornadas dos jovens, que foram às ruas gritar contra a corrupção. Seriam, no íntimo, hipócritas?

É insano, como sustentam os melhores historiadores, dizer que o Brasil deve seus problemas à formação histórica, permeada de imigrantes portugueses que vinham ao nosso país para vagabundear, explorar a mão-de-obra nativa e os escravos, locupletar-se e empaturrar-se com nossas riquezas naturais, ao invés de criar um país e uma civilização para ter assento permanente, como fizeram os ingleses na América do Norte. Esse fato é inegável, porém os desmembramentos históricos, inerentes àquela dinâmica dos fatos, proporcionou ao país possibilidades efetivas de desenvolvimento e criação de uma sociedade justa e humana. Se tal não ocorreu, a causa é eminentemente política, e permanece no atual governo, não obstante a megalomania do moço que diz ter iniciado a história do Brasil.

O povo simples do Brasil é acometido de insônia quando uma prestação vencerá no dia seguinte. Os que ascenderam aos poderes dormem o sono dos justos. Os primeiros temem o SPC, os segundos nem os cárceres, muito embora o Ministro declarante tenha dito que preferia a morte a cumprir uma pena nas prisões brasileiras. Isso, depois de ver a condenação de seus companheiros. Esperem e verão que presídios tipo spa serão construídos para abrigar José Dirceu, Genoíno e Delúbio Soares, se não puderem ser acomodados onde se encontra Nicolau dos Santos Neto.

O PT surgiu como o expoente ético da geração que hoje se insere no estatuto do idoso, mas à época estava cheia de esperanças e forrada de legitimidade em razão de sua juventude, que foi à luta em 1968 e contrariamente à ditadura que se apoderou de nossas liberdades democráticas. Termina num pântano gelatinoso, com um governo frágil e desbussolado. Não é novidade, como se sabe, que a esquerda ou o trabalhismo no poder, amiúde, dá com os burros n’água e seus ideais se transformam em escancaradas picaretagens.

Como o sentimento é insuportável, pensemos que todos são cancerosos morais. Essa não é a sociedade brasileira e muito menos são homúnculos da ética os jovens e as famílias que tomaram, num pedestrianismo peripatético que antes só cabia num imaginário, em junho passado, um país continental, de norte a sul.

Colocá-los no mesmo saco de um governo corrupto e agrupado às piores imagens de nossa política é um analgésico a que recorreu, de maneira profundamente equivocada, o Ministro da Justiça. Serve apenas para robustecer ainda mais a fogueira que queimou os pés dos lulopetistas. É certo que todas as agremiações partidárias foram torpeadas, mas não é menos verdade que a raiz dos problemas se localiza no governo federal.

É inegável que o aperfeiçoamento ético de uma nação é constante. Isso depende do transporte de conhecimentos e de princípios das velhas para as novas gerações. Aí temos dificuldades, e a maior delas foi o ilusionismo barato que o partido da ordem, a que pertence o Ministro, imprimiu na consciência dos brasileiros, angustiada há anos para sair da crise. Em outros termos, resulta de um sistema sólido de educação, muito distante do que presenciamos atualmente no país.

Por fim, é óbvio que carecemos de leis que funcionem; não daquelas que levam a condenação de centenas de anos, tipificam crimes como infamantes e acabam resultando em nada, ou simplesmente para o mal, porquanto a este estão voltados nossa administração judiciária e nosso sistema carcerário esdrúxulo, insalubre, desigual e formador de bandidos.

Varramos as bandalheiras ou todos nos locupletemos, irmãos das safadezas. O homem é assim. O brasileiro nasceu ladrão e tem milhares de oportunidades de furto. Não é isso, Ministro, o que disseram e querem as vozes das ruas que os incomodaram.


Nota do Editor: Amadeu Roberto Garrido de Paula é advogado.

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