— Pai... — Hum... — O vô Zé tinha superpoderes? — Que isso, Raulzinho? De onde cê tirou isso, menino? — Tinha ou não tinha? — Tinha, não, filhote! Claro que não! — Pai, o vô Zé matou alguém... Ou roubou? — Raulzinho! Deixa sua mãe escutar isso! — Uai, quê que tem? — O seu vô Zé, pai de sua mãe, era um santo, viu? — Era mesmo? — Era! E não deixe sua mãe escutar estas bobagens... — Ué, pois foi ela mesma quem falou! — Sua mãe!? A troco de quê ela ia falar isso, menino? — Pois falou! — Raulzinho, cê não tá escutando demais, não? — Tô nada! — Que dia, que hora, sua mãe falou que seu vô Zé tinha superpoderes, ou que tinha matado ou roubado alguém, hein? — Ah, eu escutei ela cantando... — Cantando? Como assim? — Ela tava lavando roupa e cantando “pai, você foi meu herói, meu bandido...” — Raulzinho! Ô meu Deus! — Verdade, pai! E se vô Zé era herói então ele tinha superpoderes! — Ai, Jesus me acode! Que conclusão! — Que o quê? — Nada não, Raul! Quê mais? — Então... Se ela cantou que ele foi “meu bandido” então deve ser porque ele... — Para! Para Raulzinho! Seu avô não era bandido! Cê confundiu tudo, meu filho! — Confundi nada! Escutei muito bem! — Sim! Quero dizer, não! Não era sua mãe, quer dizer não era seu avô! — Hein?! — Raulzinho, era o Fábio Júnior! — Fábio o quê? — Júnior! Fábio Júnior, meu filho! — Ih, agora eu vi... — Papai explica, tá? Fábio Júnior é um cantor. Ele que fez a música... — Hum... Mamãe aprendeu com ele? — Isso! Sua mãe é fã dele... — Muito fã? — Muito! Adora as músicas do Fábio! Principalmente essa aí que cê ouviu... — Poxa, então aquele pai herói e bandido que ela cantou não era o vô Zé? — Não, não era! Era o pai do Fábio Júnior. Quer dizer nem sei se era o pai dele... — Era ou não era? Quê isso, pai! — Filho, o Fábio fez a música, mas o pai que ele fala não sei se era o dele! Entendeu? — Pai! Se não for o pai dele, é o pai de quem? — Sei lá, Raul! Como é que vou saber? — Não podia ser o pai da mamãe? — Seu vô Zé? — Meu vô Zé! Bem que ele podia ser herói, né? — Ele era! Ele foi, ele ainda é, Raul! E eu também sou! — Herói? Por que, pai? — Porque minha paciência é de elefante, Raulzinho! — Pai... — Aiai, Raul! Quê que foi? — Eu te amo, sabia?
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