19/08/2025  04h36
· Guia 2025     · O Guaruçá     · Cartões-postais     · Webmail     · Ubatuba            · · ·
O Guaruçá - Informação e Cultura
O GUARUÇÁ Índice d'O Guaruçá Colunistas SEÇÕES SERVIÇOS Biorritmo Busca n'O Guaruçá Expediente Home d'O Guaruçá
Acesso ao Sistema
Login
Senha

« Cadastro Gratuito »
SEÇÃO
Opinião
16/08/2013 - 07h02
Por uma atitude filosófica no cotidiano
Jean Gaspar
 

Dentre tantas datas comemorativas, uma se destaca nesta semana, ainda que seja pouco conhecida pela maioria das pessoas. No dia 16 de agosto, celebra-se no Brasil o Dia do Filósofo, uma oportunidade para refletirmos sobre o papel da filosofia no nosso cotidiano e como qualquer cidadão comum pode ter uma atitude filosófica em seu dia a dia.

O filósofo é aquele que se dedica a questionar e a refletir sobre política, ética, religião, tempo e sociedade. É um livre pensador, que está acima das paixões e busca pensar a própria vida. Por isso, o senso comum muitas vezes o vê como um excêntrico, distante do cotidiano. Ledo engano. O filósofo é aquele que exerce em plenitude a capacidade humana de usar a razão para representar o mundo e a vida concreta nele inserida. Ou seja, todo ser humano é um filósofo em potencial.

A palavra filosofia vem do grego "filos" (amor ou amigo) e "sofia" (conhecimento, sabedoria, verdade), e é geralmente traduzida como "amigo da sabedoria" ou "amor ao conhecimento". Ela nasceu na Grécia Antiga no século 6 a.C., como um meio de buscar conhecimentos diferentes daqueles apresentados pela mitologia, num tempo onde a religião explicava desde os fenômenos da natureza até os fatos do cotidiano.

Antes do aparecimento da ciência como a temos hoje, a filosofia foi a única forma de conhecimento no mundo durante muitos séculos. Os filósofos tratavam o conhecimento de forma geral e explicavam um pouco sobre tudo. Aristóteles, por exemplo, foi também médico, astrônomo, matemático. Foi só a partir de Galileu Galilei, no século 17, que a filosofia começou a se fragmentar. O conhecimento tornou-se especializado.

Evidentemente que a ciência proporcionou grandes avanços ao ser humano. O problema é que as pessoas se tornaram cada vez mais especialistas, perdendo a dimensão do conhecimento geral, ou seja, alienam-se da realidade. Daí o papel fundamental da atitude filosófica frente à vida: dimensionar as consequências que o próprio avanço científico traz para a sociedade.

O filósofo italiano Antonio Gramsci já dizia que "todos os homens são filósofos". O que isso significa, particularmente neste momento da humanidade em que a ciência predomina como forma de saber e, como valor, “aquilo que é útil, prático e imediato”?

Pois bem, ao olharmos apenas o dia de hoje, esquecemo-nos do futuro. Um bom exemplo disso é o que fizemos com os recursos naturais, retirando-os da natureza para suprir "as necessidades imediatas" (de poder e de dinheiro), deixando em segundo plano o futuro da humanidade, pois sem o equilíbrio ecológico não haverá vida.

Sendo assim, ser filósofo ainda faz sentido - e muito, pois são nos momentos de crise, de conturbação social, de falta de alternativas políticas, de perda dos valores fundamentais à humanidade, é que surge a necessidade de analisar o presente e as práticas cotidianas, de pensar melhor o mundo onde vivemos.

A importância da atitude filosófica está nos atos de avaliar os diversos dogmatismos que assombram o mundo e que são impermeáveis ao diálogo. Está no questionamento das operações ideológicas que manipulam o real. Está no enfrentamento aos fanatismos que cegam. Está no combate às ações destrutivas que colocam em risco de extinção a própria vida no planeta. Esses temas embasam o programa de ação da filosofia, e que pode ser resumido em apenas um: fazer ver a realidade.

Isso significa que a filosofia não é mera contemplação, mas sim atitude. É um modo de se colocar frente à vida, questionando-a permanentemente em todas as suas dimensões.

No mundo globalizado atual, esta postura é essencial. É urgente aprender a conviver com as diferenças e a se praticar o respeito e o convívio civilizado. Mas não podemos ser tolerantes com tudo. É intolerável a injustiça, a miséria, a violência, a degradação ambiental e a corrupção na política, que gera ainda mais desigualdade social.

Esse Dia do Filósofo é um bom pretexto para refletirmos sobre o momento atual e as perspectivas futuras do Brasil, particularmente porque agora vemos, pela primeira vez, a população sair às ruas para se manifestar contra a corrupção, contra a polarização política entre dois partidos. É nessa ocasião de crise que o filósofo aponta para os problemas de forma crítica, para não aceitar como óbvias as verdades estabelecidas.

Esta é, portanto, uma oportunidade para fazer prevalecer a máxima filosófica: voltar nossos olhos e atenção para o real para desvelá-lo. Só enxergando de maneira integral – como o amante do saber – é que podemos empreender uma ação transformadora.

Afinal de contas, podemos todos ser pensadores de nossa sociedade para torná-la mais harmoniosa, equilibrada, justa e igualitária. Esse é o verdadeiro sentido do Dia do Filósofo, uma data que diz respeito a cada um de nós.


Nota do Editor: Jean Gaspar, mestre em Filosofia pela PUC/SP, é apresentador do programa Filosofia no Cotidiano (TV Cantareira) e presidente da Liga do Desporto, entidade que promove atividades físicas e desportivas como instrumento de educação e formação da cidadania.

PUBLICIDADE
ÚLTIMAS PUBLICAÇÕES SOBRE "OPINIÃO"Índice das publicações sobre "OPINIÃO"
31/12/2022 - 07h25 Pacificação nacional, o objetivo maior
30/12/2022 - 05h39 A destruição das nações
29/12/2022 - 06h35 A salvação pela mão grande do Estado?
28/12/2022 - 06h41 A guinada na privatização do Porto de Santos
27/12/2022 - 07h38 Tecnologia e o sequestro do livre arbítrio humano
26/12/2022 - 07h46 Tudo passa, mas a Nação continua, sempre...
· FALE CONOSCO · ANUNCIE AQUI · TERMOS DE USO ·
Copyright © 1998-2025, UbaWeb. Direitos Reservados.