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Opinião
16/08/2013 - 18h00
Veríssimo, Lobato e o Arcanjo Miguel
Dartagnan da Silva Zanela
 

Há uma belíssima crônica da lavra de Érico Veríssimo a respeito de ninguém menos que Monteiro Lobato. Nesta, vemos um gênio das letras rendendo uma homenagem póstuma a um dos grandes mestres da esgrima intelectual.

O texto é uma delícia! Inicialmente descreve a chegada de Lobato ao Céu e este, quando diante de São Paulo, o promotor celestial de seu julgamento, cansado da viagem, acende um cigarro com as labaredas duma estrela e eis que inicia-se o julgamento. Acusam-no de muitas coisas, mas, principalmente, de nunca ter tido paciência com a toleima humana, de ter satirizado o povo brasileiro e ele, de sua parte, confirma a veracidade de tais considerações e justificava dizendo que isso tudo era necessário para despertar os brasileiros e acrescentava dizendo que se arrependia por não ter começado tal empreitada mais cedo, pois morrera sem obter o êxito almejado.

Porém, o momento mais interessante é quando Monteiro pede a Deus, se ainda houvesse em sua algibeira, um milagre para o Brasil. E qual milagre seria? O milagre do bom senso. Sim, meu caro Pedrinho, o bom senso fez as malas e, ao que tudo indica, tirou férias perpétuas de nosso país faz algum tempo. Tornou-se quase uma regra sacrossanta, nestas terras, a afetação de superioridade, com toda aquela pose socialmente responsável em misto com aquele insuportável palavrório politicamente-correto.

Sim, passaram-se os anos e a sociedade brasileira continua, garbosamente, deitada em berço esplêndido, a babar sobre sua inépcia voluntária, responsabilizando sempre os outros por tudo para, cinicamente, fingir que nossa mediocridade seja alguma forma decantada de qualidade varonil. Tanto é assim que, hoje, muito mais que em qualquer época, confunde-se afetação e bom-mocismo com educação e dignidade. Com certeza, se estivesse entre nós, o taturana bufaria mil raios e trovões com suas letras e, com toda certeza, seria taxado de bufo intolerante, ou com alcunhas similares. Aliás, como muitos abutres já o fazem sobre seu jazigo.

Sim, não há dúvidas de que a advertência de José de Alencar é procedente, quando este nos aconselha dizendo que “dos animais selvagens o mais perigoso é o caluniador e dos domésticos o adulador”. Infelizmente, tais feras abundam nestas plagas. Esgueiram-se pelos becos e vielas, reais e virtuais, a fartarem-se no exercício daquilo que lhes é de sua natureza, esparramando-se faceiros para todos os lados com seus lábios a exalar o ar putrefaz de suas entranhas carcomidas.

Provavelmente, o autor de Urupês não economizaria as farpas se estivesse a escrevinhar, hoje, entre nós. Não mediria palavras para nos fazer despertar deste estado de estupor que hoje impera. Aliás, como afirmou o próprio Veríssimo, precisaríamos que Deus mandasse Lobatos às pencas para realização de tão ingrata tarefa. Para falar a verdade, não sei se merecemos tamanha benção.


Nota do Editor: Dartagnan da Silva Zanela é professor e ensaísta. Autor dos livros: Sofia Perennis, O Ponto Arquimédico, A Boa Luta, In Foro Conscientiae e Nas Mãos de Cronos - ensaios sociológicos; mantém o site Falsum committit, qui verum tacet.
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