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Opinião
19/08/2013 - 17h00
Religião e democracia
Amadeu Garrido de Paula
 

A democracia seria incompatível com religiões fundamentalistas, como o Islamismo? Dani Rodrik, do Instituto de Estudos Avançados de Priceton responde negativamente. Em análise publicada no Jornal Valor Econômico (“Problema é o autoritarismo”, não o Islã"), o professor de ciências sociais americano não crê nas primaveras árabes, na democracia como modelo de governo nos países controlados por governos islâmicos. Turquia, Egito e Tunísia só têm em comum o islamismo. Porém, ele acredita que o autoritarismo tem outras causas, diversas da religiosidade radical. A opressão política, não rara na América Latina, independentemente de seitas religiosas, seria a comprovação de que a negação do regime democrático não tem necessariamente a ver com os extremismos confessionais.

Cremos que se trata de uma meia-verdade. É certo que a democracia não floresce num grande número de países, sobretudo quando a concebemos em sua plenitude, é dizer, não deve ser considerado regime democrático uma ditadura com urnas, expressão com que tentou desmoralizá-la Carlile, o teórico do nazismo. Entre eles, vingam inúmeros autoritarismos laicos, sobretudo militares.

Todavia, não podemos ignorar que nas sociedades onde inúmeras seitas religiosas se digladiam, em estilo selvagem, em que a vida humana não é valorada e sim detrimentada em atenção aos profetas todo poderosos, o estado tende a ser forte e invasor da órbita privada de liberdade dos cidadãos, sob a forma de perseguições, prisões, torturas etc. Em outras palavras, entre os povos que se extremam sob radicalismos religiosos não há unidade social e política e um regime de tolerâncias recíprocas, que o autor aponta como base das configurações democráticas; o islamismo e suas contradições, entre outras correntes, é antitético à democracia.

A Irmandade Muçulmana, vencedora nas urnas, tornou-se cada vez mais autoritária, até que seu Presidente sofreu um golpe de força dos militares, formadores de uma instituição armada que nega há seculos as liberdades públicas no Egito. A queda de Mohamed Mursi ficou ainda menos explicável ante o apoio dos liberais aos militares, costumeiros em prometer domínios efêmeros e exercer ditaduras duradouras. Nós, brasileiros, conhecemos o fenômeno.

Os militares turcos também não tiram os olhos da política e intervêm em todos os momentos que julgam necessários, e não são poucos. As divisões religiosas e os conflitos delas decorrentes, muitos sangrentos, se não justificam, dão pelo menos as explicações para as motivações castrenses.

Os partidos políticos, parlamentos, tribunais e todas as instituições importantes não são infensos às desavenças religiosas. A instabilidade social e política que deles decorre abala os pilares essenciais a um governo liberal organizado. As ruturas decorrentes dos conflitos islâmicos são a semente as intervenções fundadas nos valores que negam o Estado de Direito Democrático. Mursi e Erdogam podem não ter trilhado o autoritarismo e atraído as oposições e suas vinculações espúrias com forças opressivas seculares por convicções religiosas, mas por sentirem-se ameaçados, entre outros fatores, pelas distensões incessantes de seitas rivais e intolerantes, e consequentes crises e movimentos sociais que abalam a estrutura do Estado e a estabilidade dos governos.

Em resumo: diversamente do que crê o ilustre articulista, as primaveras árabes, no sentido da criação de uma democracia do tipo ocidental, que conhecemos e que é produto de longa maturação, desde a revolução inglesa e francesa, havidas como factíveis e que despertou tantas esperanças em seus movimentos populares que tomaram as praças e ruas, por enquanto são um inverno, em que a religião, se não é a causa única da opressão, é pelo menos um de seus principais fatores.


Nota do Editor: Amadeu Roberto Garrido de Paula é advogado.

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