Várias vezes já tivemos oportunidade de ponderar que a vida política em Ubatuba não apresenta seqüência de soluções e acontece sem planejamento, num desenrolar de compartimentos, quadras, quadros e ações desconexas. Não temos projetos administrativos, política de pessoal, plano diretor urbano, uma legislação consistente sobre recursos humanos, obras, tributos, uso do solo, dos próprios municipais, das praias, ruas e praças. Tudo acontece como se a história e o devenir dos séculos passados estivessem errados e tivessem que ser mudados da noite para o dia num processo de assalto ou de resgate violento e sem ponderar as conseqüências, analisar os prováveis resultados e escolher, com conhecimento de capacidade provada, as pessoas que realizarão os processos necessários à obtenção de resultados positivos. Princípios como: "Todas as decisões políticas tem que estar fundamentadas em relatórios técnicos"; "Toda ação administrativa deverá ser cuidadosamente planejada"; "Administração eficiente exige pessoas preparadas, planejamento das ações, honestidade e prudência" e tantas outras obviedades parecem não existir para nossos homens públicos. Observando o que está sendo feito para chegar à terceirização da Merenda Escolar não posso deixar de manifestar minha preocupação com a boa alimentação das crianças de Ubatuba e de dar nosso alerta como cidadão e só como cidadão. Não tenho outros interesses no assunto. Deve ponderar-se que os recursos da merenda são próprios dela e não fazem parte dos vinte e cinco por cento destinados à educação. Gastando recursos em quantidades elevadas para a merenda deverão faltar para outras ações do município. No meu peregrinar na educação do município participei de outras discussões sobre Merenda Escolar. Numa oportunidade um novidadeiro queria implantar a "cozinha piloto". Os custos do processo de implantação, a necessidade de equipamentos térmicos, de grande número de veículos especiais para a distribuição, de pessoas nas escolas para servi-la, a precariedade de nossas vias públicas, a dispersão espacial das escolas e as idéias de quem entendia do assunto acabaram provando a inviabilidade. Tanto naquela oportunidade como em outras foi provado que o melhor sistema de distribuição de Merenda Escolar foi o colocado em prática nos últimos quatro anos. Além de ser o melhor foi também o mais barato e o que melhor se adapta à autonomia necessária ao bom funcionamento da escola. Em março de 2000, quando do governo interino, foi proposta a terceirização. Não foi aceita. Em setembro do mesmo ano foi, parcialmente, terceirizada.O processo se apresentava nebuloso e cheio de falhas. Os resultados já foram expostos neste espaço e estão na memória de muitos. Em janeiro de 2001 o contrato foi rescindido. O acerto da determinação foi elogiado por todos os envolvidos no processo escolar. Quais as razões para mudar agora que existe uma estrutura da municipalidade em todas as escolas e que mantê-la em funcionamento é sumamente fácil? O assunto não merece ser analisado com calma, pesquisando experiências desastrosas de outros municípios e problemas com o Tribunal de Contas do Estado? Os procedimentos preliminares a setembro de 2000 já estão acontecendo nas escolas. Diretores, professores e funcionários conscientes estão sofrendo em silêncio. Entendemos que não podem ficar em silêncio. O erro deve ser combatido mesmo que quem o pratique seja o Exmo. Sr. Prefeito. A cúpula da Secretaria Municipal de Educação está calada e ou conivente. Também está errada. Quem tem que exigir e coordenar as políticas educacionais são seus dirigentes. Caso contrário não são dirigentes. Esperamos que exista energia e amor aos alunos nos quadros da Secretaria Municipal de Educação e o desastre seja evitado. Ubatuba dispensa esse tipo de resgate. A mesma precipitação e falta de debate, com outros agravantes, estamos observando nos processos da Companhia Municipal de Turismo, Programa de Saúde da Família junto à Santa Casa, na nomeação dos cargos de confiança, contratação de funcionários pelas Associações de Pais e Mestres das escolas etc. Esses quadros e essas quadras nos levam a perguntar ao Exmo. Sr. Prefeito: é esse o significado de palavra "resgate"? Os atuais Dirigentes da Saúde não são os mesmos que criaram a situação de endividamento em que se encontra a Santa Casa? Para bem administrar é necessário refletir. Interesses eleitorais não podem predominar sobre os interesses das crianças de nosso município. Nota do Editor: Corsino Aliste Mezquita, ex-secretário de Educação de Ubatuba.
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