1. Domingo: dia dos pais e, principalmente, dia do Senhor. Lá estava eu a preparar o café da manhã em meu rancho. Feito isso, me dirigi para meu escritório e eis que vi meu filho mais velho diante do altar, prostrado introspectivo, a rezar. Após isso, abraçou-me. Passou um pouco, minha pequenina desperta e, de seu berço, gritou animada: “bença papai!!” Abençoei-a em meio a gostosas gargalhadas e ela respondeu-me com seu jeito moleca: “Amém!”. Eis aí o mais belo presente que um pai pode receber: ver e ouvir a beleza e a piedade manifesta nos corações de seus infantes. Por isso choro e agradeço a Deus. 2. Reclama-se que o tempo disponível para o desfrute da vida é escasso. Sim, mas deseja-se mais tempo para desfrutar o que? Mais do mesmo? Necessitamos de mais tempo para ficarmos estrebuchados num sofá, em frente a uma televisão com um notebook sobre pança, fazendo nada para realizar coisa alguma? Tempo é uma dádiva divina que, infelizmente, desperdiçamos com as coisas mais fúteis no esforço contínuo e ininterrupto de nos aviltar vergonhosamente. Por essas e outras, meu caro, que tempo é questão de [des]gosto. 3. Nosso Senhor ensina-nos que aquele que não tiver nenhum pecadinho que seja poderá atirar a primeira pedra. Ora, bolas! Todos conhecem a passagem do quase-apedrejamento da mulher adultera que nos é narrado pelo Santo Evangelho. Aliás, diga-se de passagem, cansamos de ouvir o dito do Verbo Divino nos lábios de um e outro para defenderem-se quando vexados por algum olhar acusador. Todavia, cara pálida, o Cristo disse isso não em causa própria, mas sim, em defesa de uma terceira pessoa. Trocando por dorso: quando lembramos os outros de seus defeitos apenas para nos escudar de críticas desconfortáveis, não estamos sendo humildes, mas sim, soberbos. E pra caramba! Por isso, ao invés de ficar fazendo pose de pecador [nem um pouco] arrependido, bata no peito e diga “minha culpa, toda minha culpa, minha máxima culpa”. Seria, penso eu, bem mais apropriado.
Nota do Editor: Dartagnan da Silva Zanela é professor e ensaísta. Autor dos livros: Sofia Perennis, O Ponto Arquimédico, A Boa Luta, In Foro Conscientiae e Nas Mãos de Cronos - ensaios sociológicos; mantém o site Falsum committit, qui verum tacet.
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