Ela é madura, singela, equilibrada, bonita, moderna e se for bem tratada nunca vai te trair... Leitor, essa não é uma homenagem à mulher amada, que sem dúvida mereceria muitas. Quero nesse espaço, aproveitar o ano de 2013 eleito como o ano da Contabilidade no Brasil para homenagear a Contabilidade, que é o pilar, a base, o retrovisor e o farol de todo gestor, especialmente os gestores financeiros. Madura, ela surgiu na Itália há mais de seis séculos e vem sendo aperfeiçoada por praticantes, estudiosos e pesquisadores. Cresceu e amadureceu junto com nosso sistema econômico numa relação simbiótica, a ponto de hoje ser difícil conceber o mercado de capitais e nosso sistema econômico sem a Contabilidade. Singela, pois seu marco inicial coincide com o surgimento das partidas dobradas na Itália renascentista. O matemático Luca Pacioli publicou em 1494 a “Summa de Arithmetica”, um compêndio de 600 páginas que no final do primeiro volume trazia uma seção intitulada “Particularidades dos Reconhecimentos e Escritos” onde o método singelo das partidas dobradas foi introduzido. Por ele, todo evento econômico precisa ser registrado no patrimônio da entidade como um crédito e um débito no mesmo valor. Equilibrada, visto que seus axiomas, princípios e métodos, aplicados com cuidado e de forma íntegra, refletem a posição patrimonial e a criação de valor pela entidade. Bonita, como toda ciência derivada da matemática, sua lógica desafia e ao mesmo tempo conforta. Ao representar os eventos econômicos com base na intenção dos agentes, ela atenua a dureza dos números e coloca a alma e o cérebro do Contador/Gestor na avaliação. Moderna, apesar de centenária, ela se mantém jovem e útil. O Frei Luca Pacioli ao defender o uso do método criado por ele, escreveu em relação aos mercadores do renascimento que “seria impossível para eles conduzir seus negócios sem descanso, e que suas cabeças estariam sempre confusas sem a aplicação do método”. Ontem e hoje em tempos de “Big Data”, parece que o excesso de transações e dados só é domado pela Contabilidade e seu método. Fiel, se bem aplicada e utilizada apenas para retratar eventos econômicos reais, ela não vai omitir ou deturpar valores e a situação econômica da entidade que avalia. Da mesma forma que não se diz assassinato “bélico”, não existem escândalos ou fraudes “contábeis”. O que existe são assassinatos cometidos por humanos com o uso de uma faca por exemplo, que a bem da verdade foi concebida com o objetivo de ser útil ao homem e não para matar. Com os escândalos e fraudes nos negócios passa o mesmo, eles são praticadas por pessoas que se utilizam da Contabilidade e de seu método para enganar ou omitir informações, bem diferente do objetivo para o qual ela foi criada, que é o de refletir a posição patrimonial e econômica de uma entidade ou evento, apoiando melhores decisões econômicas. Então caro Contador, sempre que perguntado sobre sua profissão não hesite. Diga com orgulho que você é Contador com “C” maiúsculo, que você tem uma das profissões mais antigas da humanidade, que você é discípulo de Luca Pacioli, que foi professor de ninguém menos que Leonardo Da Vinci e finalmente, que você pratica a contabilidade das partidas dobradas, considerada por Goethe um importante romancista, dramaturgo e filósofo alemão, como uma das melhores invenções da humanidade. Nota do Editor: Clayton C. Nogueira é professor do PROCED/FIA - Programa de Capacitação da Empresa em Desenvolvimento da Fundação Instituto de Administração.
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