Reiteram-se crimes, inclusive de homicídios, nos “campi” universitários, deliberadamente instalados em áreas socialmente sensíveis, para cumprir seu papel de integração comunitária, emissor de cultura geral e não restrito à redoma acadêmica. A contraparte dessa função social das universidades e seus centros avançados, inclusive periféricos, veio muito bem exposta pela reitora da Universidade Federal de São Paulo, Soraya Smaili, em artigo publicado pelo Jornal A Folha de São Paulo de 23 de agosto (“Tendências/Debates”). Ela faz referência a um homicídio praticado na madrugada do dia 2 de agosto, em que Ricardo Ferreira da Gama, funcionário terceirizado do campus Baixada Santista da Unifesp, foi morto por quatro homens encapuzados. A articulista não relaciona o evento às atividades universitárias da vítima, mas tudo indica que essa circunstância motivadora esteve presente no ato sórdido, porquanto seu discurso, a partir desse gancho, corre no sentido da vulnerabilidade dos sítios universitários brasileiros. Diz não se tratar de um caso isolado e que, a todo dia, violências são praticadas contra estudantes, funcionários e professores. A carreira de vigilante foi extinta (não se diz o motivo) e a atividade foi terceirizada. Na importante relação dialógica entre universidade e comunidade, com razão óbvia diz a reitora que a violência cumpre um papel desagregador. O que fazer? A velha pergunta coloca em testilha o valor da liberdade universitária e a necessidade de manter suficientes forças de segurança para garantir a incolumidade de seus membros. Recentemente esse debate efervesceu na USP, de um lado considerando-se, equivocadamente, que polícia no campus é reminiscência da ditadura militar e procedimento atentatório ao direito de liberdade no meio acadêmico. De outro, as autoridades, que só podem combater a criminalidade pelo único meio possível e pragmático, num primeiro momento: a repressão. É certo que a erradicação de suas raízes é a terapêutica definitiva e coincide com essa própria tarefa universitária de propagação cultural no seio do povo. Não obstante, a solução instantânea – e o tema não admite tergiversar – se faz por meio da contenção e prevenção racionais, porém firmes, por meio de corporações armadas e devidamente preparadas, é dizer, através da atividade policial. Com o devido respeito, a ilustre articulista claudica ao procurar solução para o problema tão bem exposto e oportunamente destacado, ao asseverar que “a multiplicação de câmeras e catracas contradiz a concepção de uma vida universitária que preserva a liberdade de cátedra e de manifestação”. Respeitosamente, não conseguimos vislumbrar o nexo etiológico entre os fatos apontados. Em que medida câmaras e catracas no campus interferem com a liberdade de cátedra? Em que ponto embaraçam as manifestações, necessariamente legítimas? A derrapagem lógica na propositura de solução eficaz tem continuidade na crônica falta de objetividade acadêmica para solucionar os problemas reais e a inclinação para confinar os dilemas no campo das elucubrações e das discussões intermináveis e inócuas. “O momento deve nos permitir o debate das ideias...”. “Trata-se de um problema social...”. “A reitoria propõe o debate...”. “Precisamos encontrar soluções e caminhos...”. Sem prejuízo de tudo isso, consideramos que é caso de polícia. E polícia com contingentes suficientes e preparados para uma tarefa especial, em que o aparato repressivo não pode desbordar para restrições inaceitáveis à comunidade universitária. Não é impossível o treinamento de policiais para essa missão. Basta qualificá-los e partir para a ação. E conscientizar, principalmente os estudantes, que eles lá se encontram como protetores e, não, como inimigos. Nota do Editor: Amadeu Roberto Garrido de Paula é advogado.
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