Conhecemos, em Orlândia, um exitoso projeto idealizado na deficiência da menina Vitória. Sua mãe criou um espaço para que crianças com deficiência convivam entre si. O “Projeto Vitória” nos ensina que “criança não tem preconceito”. A sociedade é que os cria. Está andando a Caravana da Inclusão, Acessibilidade e Cidadania, programa que objetiva mostrar os projetos e programas da Secretaria Estadual dos Direitos da Pessoa com Deficiência. Setembro, dia 13, nos reserva a cidade de Pirassununga para que, no Centro de Convenções, com apoio inquestionável da prefeita Cristina Batista e do presidente da Câmara, Otacílio Barreiros conheçamos os direitos das pessoas com deficiência. Questões debatidas, como a eliminação das classes especiais e a responsabilidade sobre a preparação profissional da pessoa com deficiência, são tratadas, envolvendo setor público e a sociedade. A professora Maria Farid, da USP, em trabalho de doutorado constatou que a inclusão de crianças com necessidades educacionais especiais no ensino regular pode proporcionar muitos benefícios terapêuticos, decorrentes da interação do aluno especial com as outras crianças. A pesquisa intitulada “Laço social e Educação: um estudo sobre os efeitos do encontro com outro no contexto escolar”, foi premiada pela profundidade de sua análise. O aluno especial tinha 4 anos quando começou a frequentar a escola, mas seu comportamento era de uma criança menor. Seu corpo era sem tônus e ele não conseguia desempenhar atividades simples, como se alimentar ou ir sozinho ao banheiro. Durante o período do ano letivo, a pesquisadora realizou um trabalho de campo na escola com o objetivo de estudar a interação entre as crianças, entre 6 e 8 anos. Além de gravar as entrevistas com todas, a pesquisadora também realizou algumas filmagens das interações entre elas e o aluno especial, dentro e fora da sala. A professora acompanhou atividades que não eram necessariamente dirigidas por adultos, como jogos nas quadras, oficinas e mesmo suas conversas. As cenas das filmagens eram mostradas a todos, e o aluno com deficiência, apesar de não falar muito, assistia e participava das atividades. Observou-se que a interação desse aluno com as outras crianças tinha efeitos terapêuticos, na forma como o convidavam a participar das brincadeiras. Passou a dar sinais claros de socialização. Sentiram, também, a reação das crianças que tinham grande capacidade de perceber quando o aluno especial se mostrava incomodado com alguma coisa, como quando queria se alimentar. Essa tese reforça a posição da Secretaria dos Direitos da Pessoa com Deficiência, quanto a necessidade de escolas comuns, porém com mecanismos que possibilitem a entrada de crianças com deficiência, trabalhadas individualmente, mas de modo articular a todo o grupo da sala de aula. Prefeitos e vereadores, dentro do novo modelo de sociedade que se cria, estão recheados de grandes desafios. Porém, políticas de inclusão devem estar na primeira fila das preocupações. É o que sentimos nas autoridades de Pirassununga e nas entidades que cuidam desse público, notadamente a APAE, sem dúvida uma grande referência para outros municípios. Os números mostram o tamanho dos problemas. O IBGE constatou que 45,6 milhões de pessoas com deficiência vivem no país. Que, apenas 18% dos prédios escolares da rede pública de ensino no país têm vias de acesso a banheiros adaptados. E que 4,7% das ruas do país têm rampa de acesso para cadeirantes e nenhum dos municípios brasileiros conseguiu construir a benfeitoria em todas as vias. A Uvesp vai ao encontro dos interessados. A caravana de Pirassununga promete sacudir a região. Prefeitos e vereadores devem participar, até porque as leis municipais precisam evidenciar-se. O desafio não é fácil, mas nada supera a visão estratégica, a visão solidária e a vontade política. Nota do Editor: Sebastião Misiara é Presidente da União dos Vereadores do Estado de São Paulo.
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