Os primeiros 1.100 profissionais que aderiram à primeira fase do programa “Mais Médicos”, do Ministério da Saúde, começaram a trabalhar em 454 municípios, nesta segunda-feira. O número ainda está muito aquém da demanda, de 15.460 médicos, requisitados por 3.511 municípios. Mas, no próximo dia 16 começarão a trabalhar outros doutores vindos do exterior e também existe, em curso, a segunda fase, que deverá contratar outros para o preenchimento das vagas. Ainda há o acordo com a Organização Panamericana de Saúde (OPAS), para a vinda de 4 mil cubanos, dos quais 400 já chegaram. Com a contratação desses médicos, o governo poderá resolver o grave problema da falta de profissionais nos prontos-socorros e unidades básicas de saúde, há muito sentido pelas prefeituras, que não os conseguem contratar e, muitas vezes, para não perdê-los, negligenciam em suas jornadas de trabalho, deixando-os à vontade para exercer outras atividades no horário em que deveriam estar atendendo no serviço público. Os órgãos classistas dizem que não faltam médicos no país, mas o certo é que eles, por já estarem inseridos no mercado particular, não se dispõem a atender nos grotões e nem nas periferias. Quando, na falta dos nacionais, preenche as vagas com profissionais estrangeiros, o governo dá um duro golpe no corporativismo e pode até “convencer” muitos dos antes desinteressados a aceitar uma dessas vagas nos serviços populares de saúde. Mas, para dar certo, o programa tem de incluir o acompanhamento intensivo por órgãos de auditoria do próprio governo e, principalmente, dar condições mínimas de trabalho aos doutores agora apresentados ao interior e às periferias. Eles não precisam de luxo, mas têm de contar com um mínimo de recursos para poder resolver os problemas básicos de saúde da clientela e meios para encaminhar os mais graves a centros especializados. Só a sua presença pode amenizar, mas não cura os doentes. Há que se impedir que prefeitos cometam a estupidez de demitir médicos que já mantinham no quadro ao receberem os profissionais encaminhados pelo governo federal. Nada justifica uma atitude dessas pois, se assim for, a desgraça continuará e o povo restará enganado. Outra coisa que não pode ocorrer é a priorização do programa como instrumento de suporte a campanhas eleitorais. A tarefa é árdua e urgente e não pode, jamais, sofrer os revezes de uma campanha, onde existem prós e contrários. Todos têm de remar para um mesmo lado, que é o de atender ao paciente, sem qualquer outro interesse. É importante ficar claro que ao garantir a presença de médicos junto à população, o governo não faz nada mais do que sua obrigação constitucional, até agora não cumprida, apesar de os partidos e até uma parte dos que tem governado o país terem sido os autores de atual Constituição, promulgada em 1988. Se os serviços públicos de saúde passarem a funcionar razoavelmente, muitos daqueles que hoje chegam a “tirar da boca” para pagar planos privados, certamente voltarão a utilizar a rede pública, com isso, sobrará mais de seus salários para atender às demais necessidades próprias e da família... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
|