A complexidade das relações sociais, nesta virada de século e de milênio, gerando problemas que nossos pais e avós sequer atinavam em seu tempo, provoca a necessidade do surgimento de um novo tipo de liderança. Há 105 anos, por exemplo, poluição era algo desconhecido. O termo "ecologia" surgiu apenas na década de 70 do século XX, quando as questões ambientais deixaram de ser assunto de meia dúzia de estudiosos, para freqüentar até mesmo as manchetes de jornais. A Aids foi mencionada, pela primeira vez, em 1983, fruto podre da permissividade sexual descontrolada, sem as devidas cautelas, decorrente da geração de Woodstock e dos "hippies". Exige-se, hoje, dos líderes de qualquer espécie, além dos atributos tradicionais, como competência, coragem, maleabilidade e capacidade de decisão (e honestidade, que nem é preciso mencionar, pois é obrigação de todos), outros que são característicos dos novos tempos. Como, por exemplo, alto grau de informação, nos mais variados campos do conhecimento humano. E, sobretudo, muita criatividade. Ou seja, precisa contar com uma capacidade aguçada de encontrar novas soluções a partir de velhos pressupostos. Para tanto, faz-se indispensável a existência de um conjunto de circunstâncias simultâneas. O escritor norte-americano Jay Conger, em seu livro "Líder Carismático" (lançado pela Makron Books do Brasil Editora), acentua: "A criatividade requer intuição, incerteza, ausência de convencionalismo e expressão individual". Exige pessoas que tenham coragem de se livrar de tabus, de ignorar preconceitos, de contestar dogmas e que, sobretudo, possuam uma capacidade de convencimento ímpar. O momento presente é de transição. As ideologias que prevaleceram durante praticamente todo o século XX provaram ser inadequadas para garantir equilíbrio econômico, com justiça social, para os povos. Os últimos 105 anos foram os mais violentos da história do homem. Nesse período, a humanidade passou por duas sangrentas e catastróficas guerras mundiais (na segunda surgiu a bomba atômica), por uma infinidade de revoluções (a portuguesa de 1910; a mexicana, de 1911; a Bolchevique, de 1917; a iraniana, de 1978, apenas para citar algumas das principais), além de conflitos nacionais e regionais, longos, mortíferos, desastrosos, com milhões de vidas humanas desperdiçadas por nada. O modelo de estadista que prevaleceu ao longo de todo o século XX mostrou, sobejamente, não ser adequado. A humanidade regrediu, em termos de relacionamento social, na proporção inversa dos avanços da ciência e da tecnologia. Faltou uma liderança adequada. Hoje, dois terços dos habitantes do Planeta vegetam e batalham, virtualmente sem perspectivas ou esperanças, para sustentar o um terço que tudo tem e tudo pode, sem que haja a mínima razão lógica para isso. Os líderes da nova geração precisam ter em mente o potencial de violência e de destruição existente nessa situação. E, mais do que isso, têm a obrigação de encontrar soluções criativas para este problema, até aqui ignorado, quando não tratado meramente como simples tema acadêmico, sem o devido realismo. Sepultada a Guerra Fria, que por quase 50 anos manteve a humanidade à beira da hecatombe nuclear, se torna urgente neutralizar o risco muito maior do que o confronto temido, mas nunca concretizado, das antigas superpotências: o da "bomba da miséria"! Como fazer isso é questão para os líderes autênticos, não apenas de fachada (como a maioria dos políticos, notadamente os populistas), resolverem. Nota do Editor: Pedro J. Bondaczuk é jornalista e escritor.
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