As manifestações de 7 de setembro foram menores do que as de julho. Isso porque os jovens estudantes de classe média, deflagradores originais do movimento - que não tinha donos e nem organização definida - dessa vez não saíram às ruas, temerosos das ações violentas ou de serem envolvidos em questões diferentes de suas reivindicações. Sente-se que as marchas foram assumidas pelos coletivos que nos últimos 10 anos agem isoladamente e sem muita repercussão por teses específicas e, perigosamente, infiltradas por anarquistas, desordeiros e afins, que atuam sem bandeiras definidas e até com uma certa patologia social. O momento exige muita reflexão das lideranças da sociedade e principalmente dos governos encarregados de manter a ordem pública, que precisam encontrar a maneira adequada de lidar com o fenômeno. Os coletivos que lutam por bicicleta, deficientes físicos, anti-homofobia, qualidade do ar e outras questões sócio-urbanas, não constituem problema. Sua adesão ao movimento mais massificado é uma tentativa válida de emplacar suas teses. Mas os neoanarquistas exigem toda atenção e cuidados pois são muito diferentes dos anarquistas clássicos que, mesmo tendo suas teses e utopias rechaçadas, defendiam apenas a auto-regulamentação da sociedade, sem a obediência a um governo. Os atuais vêm contaminados pelo vírus da violência decorrente das guerras, das lutas fratricidas e dos diferentes métodos de revolução e terrorismo. Com isso, agem em confronto ao governo, ao capitalismo e ao quê nem eles próprios devem saber bem o que é. Empenham-se na destruição do patrimônio capitalista, mas também depredam o bem público que pertence a todos, inclusive a eles próprios. Se pensassem bem, não quebrariam lixeiras, repartições, terminais de transporte e outras obras custeadas pelo erário. Toda a assimilação que o governo, as autoridades e a sociedade constituíram aos movimentos dos meses passados é, hoje, folha morta e desatualizada. Corremos o risco de restarem nas manifestações apenas aqueles que, independente da tese a defender, querem depredar e colocar tudo abaixo. Agem, provocando a todo custo a polícia, para ser reprimidos e, depois, reivindicar lucro político da repressão. É preciso, com toda urgência, encontrar um meio de continuar garantindo as reivindicações pacíficas e ordeiras e impedir eficientemente as ações violentas. Há de se fazer efetiva prevenção de forma a evitar, inclusive, o confronto policial. Quando há a necessidade de agir com a tropa de choque, o prejuízo já estará consumado. Tropa de choque deve ser igual a seguro de vida, botão de pânico e até disparador de guerra (que os governantes das potências têm à mão); é importante ter à disposição, mas nunca ser obrigado a usar... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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