No final do mês passado, mais um apagão atingiu o Nordeste do país e deixou milhares de residências, comércios e indústrias de oito estados sem luz por algumas horas. Como em tantas outras vezes, um fato isolado foi apontado como causa, justificando-se que uma queimada no Piauí provocou o incidente. Mas por que o sistema energético nacional fica tão refém de falhas pontuais? Por que tantos apagões afetam nossa população?

É muito comum nos depararmos com questões voltadas ao meio ambiente e à sustentabilidade, no entanto o abastecimento de energia a nossos lares e indústrias é um problema latente e que ainda pode trazer muitos danos a nosso país. Fatores como as falhas na manutenção de equipamentos, a incapacidade de finalizar construções de usinas e a falta de investimento em fontes previsíveis nos levam a crer que nosso sistema energético pode estar próximo de um verdadeiro caos.

Exemplo desses tantos equívocos é a inutilização de várias usinas eólicas erguidas, por coincidência ou não, no Nordeste. A energia eólica, apontada como alternativa para os baixos índices de água em hidrelétricas e como solução para as questões ambientais, foi um sucesso nos últimos leilões do Ministério de Minas e Energia, superando em vendas fontes térmicas e usinas a gás natural. O problema é que grande parte delas não foi nem colocada em atividade por falta de linhas de transmissão e subestações, o que fez com que os usuários de energia ficassem ameaçados por racionamentos e, como já vimos, por apagões – para se ter uma ideia, esse foi o terceiro apagão em menos de um ano na região.

Mesmo se todas as usinas eólicas estivessem funcionando em perfeitas condições, o país ainda precisaria continuar a dividir as atenções com fontes como carvão, gás natural e a própria água, por meio de reservatórios maiores nas hidrelétricas. Apesar dos constantes questionamentos de ambientalistas, é absolutamente inviável, principalmente em nações com a população e a economia do tamanho das do Brasil, um sistema energético sem fontes previsíveis. Ou seja, não há garantia de vento e luz solar o tempo todo, mas conhecemos nosso estoque de carvão, conseguimos estimar o tamanho dos poços de gás e sabemos a quantidade de água da chuva estocada nos reservatórios de nossas hidrelétricas. A partir dessas informações, podemos planejar toda a distribuição de energia.

Claro que as preocupações ambientais devem existir o tempo todo e ninguém pode ser contra isso, no entanto a falta de energia elétrica em nossos lares e indústrias é uma questão importantíssima. Por conta disso, a diversificação de fontes em nosso sistema energético se faz indispensável.

Nota do Editor: Mikio Kawai Jr. é economista pela FEA-USP (1995), mestre em economia pela Unicamp (1999 – dissertação sobre gestão de riscos) e Advanced Executive Management pela IESE Business School (Espanha, 2011). Iniciou a carreira no mercado financeiro em bancos de investimentos, tanto nacional como estrangeiro, migrou para o mercado de energia na sua gênese, em 1998, tendo trabalhado na CPFL Energia até 2004. Atuou como gerente de suprimento de energia na AES Brasil, gerente de operações na Openlink (Nova York e SP). Ocupa, desde 2008, o cargo de Diretor Executivo do Grupo Safira, companhia que atua na comercialização de energia, além de consultoria e prestação de serviços em representação de entidades no âmbito da CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica).