A cultura estabelece delimitações cognitivas e sociais. Em seu processo de desenvolvimento construiu alicerces sob o manto humano que sofreu diversas mutações físicas e intelectuais em sua trajetória terrena. Ultrapassamos a Indústria Lítica há milhões de anos atrás e chegamos, na atualidade, a Inteligência Artificial. Este, sem vias de dúvida, foi o salto mais fantástico que a cultura oportunizou ao homem neste processo de desenvolvimento cultural. Obviamente o que falo não tem nada de novo ou anormal. No entanto, faz-se necessário discorrer sobre alguns pressupostos atuais: um deles e talvez o de maior significância seja reiterar que a cultura é uma produção humana e determina cosmovisão de mundo, muitas vezes reproduzindo padrões de comportamentos desconectados do seu tempo real. O novo e o antigo compartilham, neste sentido, o mesmo espaço geográfico. Por mais que algumas ações, atitudes e crenças estejam, somente, no imaginário coletivo e no campo filosófico. Em tempos atuais temos acompanhado a luta de vários grupos étnicos e sociais que buscam o direito constitucional de manifestarem suas crenças, culturas, comportamentos e identidades. O sistema capitalista tem nos feito ver o mundo através de suas lentes consumistas. Passamos de expectadores a atores reais, no que se refere à visibilidade do uso das marcas famosas, dos corpos esbeltos e da busca da fama. As pessoas foram padronizadas e agem de forma padronizada. Isto implica diretamente na relação do eu, enquanto ser social, e do meu entorno, enquanto ser cultural. As culturas locais e regionais estão sendo esmagadas por uma cultural nacional e transnacional. O foco já não está mais na relação cotidiana da história construída por minha família e pelo meu grupo étnico nesta construção multifacetada do país nos seus mais de 500 anos. Partindo deste princípio, quer as manifestações culturais do Boi-de-Mamão, Festa da Laranja ou o Cacumbi, já não nos suscitam mais nenhum tipo de reação. Somos totalmente indiferentes a elas. Suas existências ou não, pouco ou nada nos afetam, ressalvados os grupos minoritários que buscam a defesa de sua cultura de forma homogênea e pequena. Aqui entra as ações do Estado que não cumpre o seu papel de estimulador e disseminador das culturas existentes em seu solo. Claro que as culturas dominantes acabam por ter um tratamento diferenciado. O Estado deveria ser o agente mais importante em manter vivas as tradições culturais de seu povo. Porque um povo sem sua memória, cultura e patrimônio material e imaterial vivo, transforma-se em um ser sem passado e sem perspectivas de futuro. A violência se estabelece nesta relação. Assim como a ignorância, os vícios, a baixa qualificação educacional e profissional. A cultura é único instrumento capaz de manter a paz e a racionalidade humana. Ela se desenvolve no seio familiar, nas relações cotidianas e nos ambientes educacionais. Não perceber o contributo da cultura na vida do homem, é o mesmo de querer dar aulas a Deus. Nota do Editor: Marcos Canetta é historiador, produtor cultural social, policial civil e professor da Anhanguera de São José.
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