Diminuíram os homicídios e aumentaram os roubos. As estatísticas da polícia paulista dizem que em agosto último tivemos 10% mais roubos que em agosto do ano passado e que em julho o aumento já havia sido de 14,5%. Destacam-se os seqüestros-relâmpago, saidinhas de banco, assaltos em cruzamentos e outras violências que enchem de medo a população. As autoridades, confortavelmente, atribuem o fenômeno à frouxidão das leis, mas é mais que isso. Há muito se negligencia nas políticas públicas e cobra-se das polícias resultados que não são de sua responsabilidade. Não é segredo que a máquina policial brasileira – e a paulista faz parte – padece da crônica falta de recursos e perde eficiência perante o crime, cada dia mais desafiador e travestido de autoridade. Enquanto os cartéis e organizações criminosas colocam armamento de guerra e potentes veículos nas mãos de seus colaboradores, as polícias têm armamento restrito e quando o policial usa a arma que o Estado lhe deu, sofre todos os tipos de avaliação e, mesmo aquelas feitas sob o pretexto de socorrê-lo psicologicamente, acabam tumultuando sua vida pessoal. Isso quando não surgem os cínicos defensores dos direitos humanos (só dos bandidos) a persegui-lo! A política salarial que os governos das últimas duas décadas têm desenvolvido impõe verdadeira erosão econômica na vida do policial. Tanto que o próprio Estado, para não pagar salários mais compatíveis, passou a fazer vistas grossas ao “bico” e, mais recentemente, inventou a tal função delegada, que nada mais é do que a oficialização do bico de forma que as prefeituras pagam aquilo que o Estado não quer pagar de salário. Ao policial só resta a opção de se conformar com o trabalho em jornada dupla para receber aquilo que deveria ganhar pela prestação exclusiva do serviço policial. Mas agora, ao reajustar a Polícia Civil e não fazer o mesmo com a Polícia Militar, o governo paulista foi além dos limites. Os civis merecem muito mais do que passarão a receber, mas os militares também são credores de mais ganhos. O civil, pela natureza de seu trabalho, atua em polícia judiciária e na investigação e entrega dos criminosos à Justiça. O militar tem a função de polícia ostensiva e preventiva, para evitar ao máximo a ocorrência do crime, e tem de atuar motivado e atento para poder fazer um bom trabalho. Quando nega-lhe um salário compatível, o Estado lança-o ao desânimo e poderá levá-lo até a operação-padrão, que é legal, mas não dá bons resultados. Aí não é difícil compreender porque explodem as estatísticas do crime. E se nada for corrigido nesse sentido, os próximos índices certamente serão ainda mais alarmantes. Os PMs esperam pelo justo reconhecimento... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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