Idade e freqüência da higiene bucal também têm influência sobre a severidade da cárie dentária entre jovens de 15 a 19 anos. Estudo apresentado à FO buscou aliar a Odontologia e a Nutrição
Fatores como sobrepeso, idade e escolaridade materna, associados à freqüência da higiene bucal, têm influência sobre a severidade com que a cárie dentária atinge adolescentes. Um levantamento feito com 230 adolescentes (de 15 a 19 anos) sobre o número de dentes cariados, perdidos e restaurados identificou os fatores de risco da cárie, condições que facilitam o aparecimento e o desenvolvimento da doença. A pesquisa foi apresentada à Faculdade de Odontologia (FO) da USP. Segundo a dentista Cristina G. Zardetto, autora do estudo, um dos objetivos era avaliar a relação entre o estado nutricional do paciente e a ocorrência de cárie dentária, unindo a Odontologia à Nutrição. Os adolescentes avaliados eram estudantes de uma escola pública da Vila Mariana, bairro paulistano de classe média. Foram obtidos dados detalhados a respeito da situação socioeconômica, do histórico familiar de doenças e dos hábitos alimentares e de higiene de cada um dos adolescentes. Intensificação de risco "Cerca de 70% dos jovens apresentavam cárie, um índice muito elevado", afirma a pesquisadora. Dos 230 adolescentes, 148 apresentavam peso normal e 82 possuíam sobrepeso ou sofriam de obesidade. Cristina verificou que o fator sobrepeso aumenta em três vezes a chance de se desenvolver cárie. "Para agravar a situação, os números nos mostram que os adolescentes com sobrepeso que comiam doces com maior freqüência escovavam os dentes com menor regularidade", diz a pesquisadora. "Mas, como tanto a cárie quanto a obesidade são doenças causadas por fatores diversos, não é possível apontar a causa exata desse fato". Uma hipótese é que, por questões psicológicas, o adolescente com sobrepeso não tenha muitos cuidados consigo. A escolaridade materna também pode influir no alto índice de cárie. Os adolescentes cujas mães não haviam concluído o Ensino Fundamental possuíam três vezes mais chance de apresentar a doença. "Isso nos mostra que é a mãe quem transmite informações ao filho, quem o ensina", avalia Cristina. A higiene bucal também é um elemento importante: aqueles que escovavam os dentes três vezes ao dia possuíam três vezes menos chance de desenvolver cáries, quando comparados aos que escovavam apenas uma vez. Prevenção O estudo mostrou, ainda, que os adolescentes com mais de 17 anos possuíam um maior número de dentes afetados. Segundo Cristina, essa constatação reflete uma tendência à falta de controle e prevenção da cárie. "Se um adolescente de 13 anos não cuida regularmente de seus dentes, é natural que, mais velho, o quadro se intensifique", explica. A ausência de uma "cultura de prevenção" se traduz, principalmente, numa procura pelo dentista somente diante do aparecimento de problemas, como dor de dente. A pesquisa faz parte do projeto ECCCHOS (Estudos Clínicos sobre Crescimento, Comportamento, Hipertensão Arterial, Obesidade e Saúde Bucal), desenvolvido na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp - EPM) e dirigido à avaliação clínica de adolescentes. O levantamento, parte da tese de Cristina, Prevalência de cárie dentária em adolescentes residentes no município de São Paulo: indicadores de risco e gravidade, resultou de uma parceria entre as disciplinas de Odontopediatria da FO e Nutrologia do Departamento de Pediatria da Unifesp-EPM . A tese teve orientação da professora Célia Regina Martins Delgado Rodrigues, da FO, e coorientação do professor Domingos Palma, da Unifesp-EPM.
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