- Não, hoje ele não morre, é dia de São Cosme e Damião. De criança ele entende, e sabe que não ia combinar nem um pouco morte, nessa data tão especialmente aguardada por elas. Você verá, ele vai resistir só pra não estragar a festa! Amanhã, domingo, quem sabe, talvez seja o dia dele, o tal dia que ninguém escolhe, o tal dia que, de esquecer, pontualmente, todos se lembram! Esse papo foi ouvido no sábado e assim, assim mesmo, desse jeitinho aconteceu. A doçura do 27 de setembro foi mantida e a alegria da criançada salvo-guardada. Teve menino carregando dois sacos de supermercado abarrotados de bala, mariola, maria-mole, ah... e doce de abóbora! E até, menina de bolsa e sapatos de verniz aguardando horas na fila para receber um pacotinho enfeitado com a imagem dos santos, repleto de gostosuras! Naquele fim de tarde foram esses, entre outros, os comentários ouvidos. A doença mortal chegou quase sem se anunciar, porém com bagagem suficiente para deitar, rolar e ficar. No início, surpreendido pela dor lancinante, num desabafo quase disse para a intrusa: - A porta da rua é a serventia da casa! Aos 53 anos de vida empenhados em acompanhar de perto e carinhosamente o crescimento dos filhos, em aconselhar num papo descontraído os sobrinhos e eventualmente dar carona e abrigo para andarilhos, deixar de ser bom anfitrião na derradeira hora seria impossível - a generosidade dele, muitíssimo saudável, seria a grande herança partilhada.
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