Era uma vez um menino muito bobo que, apesar disso, morava no interior de Santa Catarina. Esse menino tinha o hábito de começar a esperar pelo Natal já no início de setembro. Não se tratava simplesmente de ter vontade que o Natal chegasse logo, mas de concentrar nessa espera todas as suas energias. Afinal, o que poderia haver de mais maravilhoso no mundo que a chegada do Natal? Era com esta certeza que, antes até da primavera chegar, ele começava a contagem regressiva em um pequeno quadro-negro de sua casa. Escrevia assim: “Faltam 108 dias para o Natal”. Dia após dia ele apagava o último número e assim atualizava a contagem. De vez em quando apagava tudo e escrevia de novo mais bonito. Seus pais provavelmente achavam aquilo um exagero. Onde já se viu esperar o Natal em setembro? Mas viam graça e nada falavam contra.

O menino bobo não fazia essa espera simplesmente pelos presentes do Natal. Havia os presentes, é fato, ele fazia até uma listinha com aquilo que queria ganhar. Mas o que mais fazia aquele menino ansiar pela chegada do Natal era todo o ambiente que se criava, a casa toda enfeitada, a corrente de luzinhas que o pai arrumava, a disputa para ver qual casa estava mais bonita, a busca por uma árvore de Natal (verdadeira), as velhas cantigas de uma fita cassete, o encontro com os primos na casa da avó, a boa vontade que subitamente pairava sobre todos, a certeza de que boas surpresas iriam acontecer, a intuição de que se estava participando de uma coisa grande e transcendental. Como não desejar que isso tivesse início o mais cedo possível? Assim pensava o menino bobo.

Depois que o menino cresceu, ele percebeu que o Natal começava cada vez mais cedo. Em outubro já é Natal, e não demora muito para que comece em setembro. Só que não se alegrou com isso. Deu-se conta que, ao contrário dele, o comércio não é nada bobo e suas motivações também são bem outras. Teve que se convencer então: bom seria se o Natal viesse de surpresa.