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Opinião
22/10/2013 - 17h04
O conto Nobel
Amadeu Garrido de Paula
 

Uma feliz escolha da Academia Sueca ao conceder o prêmio nobel de literatura a Alice Munro, do Canadá, em 2013. Prestigiou-se o conto. Há uma diferença abismal entre o conto e o romance.

Neste há um longo começo, meio e fim. Personalidades definidas. Fatos concatenados. Histórias que seguem um fio condutor e anseiam por um fim que satisfaça o leitor. De certo modo, o autor fica preso às teias de sua própria imaginação. Não pode desgarrar-se de uma certa lógica de amarração. Fica amesquinhado o universo do livre, do imaginário, do sonho. O leitor anseia por dominar um sentido minimamente lógico, novelesco, dos acontecimentos construtivos do romance. É evidente que essas circunstâncias não depreciam o gênero e um talento especial sem o qual o romancista não se dá bem.

Leitores hedonistas optam pelo conto, quase tão livre como a poesia. E o autor dá asas a seus vôos libertários, sem preocupação com travejamentos de uma ficção que o aprisiona. Divaga, por exemplo, entre as cogitações de um grupo de meninos que foge das amarras da família e da escola para andar livremente em torno de um rio e pensar sobre a vida. Encontram até mesmo um cadáver que há tempos se desintegrou sob as águas. Não se impressionam, embora o identifiquem, já que são habitantes de uma pequena aldeia, ambiente preferencial da vida e da obra da contista premiada, como se vê de “Uma boa mulher”. Não fica claro se comunicam à polícia. E esse aspecto é secundário. Mais importante foi a lembrança dos jovens sobre as características físicas e a psicológicas do defunto encontrado em sua aventura.

Os escritores e poetas deixam correr a imaginação porém não se libertam das determinações de seus ambientes. O imaginário de Alice Munro cresce num país em que meninos podem gazetear as aulas e peregrinar sem sobressaltos em meios urbanos e rurais para conhecer as cidades e a natureza, livres de riscos, temores físicos e preocupações do país. Quando menino, no interior de São Paulo, seguíamos os corvos, atravessando os capinzais, para conhecer a carniça do dia. Recentemente, soube que essa perseguição dos corvos foi o primeiro estímulo ao desenvolvimento do cérebro humano. Só não se assemelhavam os fins.

Não São Paulo em que cresciam os jovens, da terceira geração de hoje, principalmente os meninos, deambulavam por horas e pelos mais recônditos pontos da cidade, de entremeio a cogitações sobre a vida e sobre os acontecimentos que os esperavam em suas aventuras pelas ruas repletas de bitucas. Hoje vivemos numa cidade que nos retirou essa liberdade que permitiria um conto de Alice Munro. Outros contos são possíveis, evidentemente, porém, ambientados e projetados em palcos em que a vida desenvolta foi deteriorada pelo aprisionamento em pequenos espaços paulistanos e não mais tem a ver com seu passado recente e tampouco com um pacato vilarejo canadense.


Nota do Editor: Amadeu Roberto Garrido de Paula é advogado.

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