Os deputados federais votam a lei das biografias. Os escritores querem liberdade total para escrever e personalidades – algumas que durante a vida lutaram e faturaram contra a censura – querem censurar episódios da vida dos biografados que possam constranger o próprio ou seus amigos e descendentes. A discussão tende a acalorar-se pois enquanto uns defendem a restrição história, outros lembram que até os deslizes fazem parte da vida das personalidades e, por piores que sejam, não conseguem manchar a imagem que construíram e lhe renderam notoriedade. Ainda mais: o leitor tem o direito de saber a verdade! O tema é controverso. Mas, se tratado com bom senso e equilíbrio, pode levar ao consenso. Aliás, como muitas questões que têm levado a sociedade brasileira a verdadeiras contendas sociais, ideológicas e pessoais. Avanços que deveriam vir para o desenvolvimento e a modernização da sociedade, infelizmente devido aos excessos, acabam se tornando instrumentos de discórdia, desagregação e até do retrocesso. O desarmamento da população, por exemplo, que deveria ter rendido bons frutos para a segurança pública, não foi eficaz porque não se conseguiu desarmar os bandidos que, agora, além da sua ousadia criminosa, ainda contam com a certeza de que suas vítimas não têm com o que se defender. A lei de menores, também de boa índole, foi levada a extremos e hoje nossas crianças restam desamparadas e as famílias com dificuldades para seu controle e encaminhamento. A união homoafetiva, avanço para evitar problemas aos pares é insistentemente confundida com casamento. Até a polícia, em muitas situações de risco à ordem, é impedida de exercer a sua função de garantir a segurança pública porque os governos incompetentes e interesseiros que as mantêm confundem democracia com leniência. Sem dúvida, vivemos no país dos extremos. Qualquer avanço que se pretende aplicar à sociedade é tomado de assalto por radicais que o levam ao imponderável e, na maioria das vezes, o tiro acaba saindo pela culatra. Somos levados a pensar que o problema brasileiro é sociológico. Legislações e comportamentos já consolidados nas regiões avançadas do mundo são para cá trazidos e, por falta de contextualização para a situação brasileira, acabam se tornando combustíveis da discórdia, do interesse de segmentos e da desagregação social. Governo, Congresso, universidades e a sociedade civil precisam se debruçar sobre esse incômodo viés modernizador e deixarem de trazer para nosso povo fórmulas incabíveis ao pensamento nacional. Afinal, somos um país de mais de 500 anos, quase 200 deles de vida independente e com cultura própria. E quanto às biografias, que vença o bom senso... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
|