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Opinião
30/10/2013 - 07h15
Tem cuidado com os idos de junho
Amadeu Garrido de Paula
 

Um adivinho é sacado das entranhas da turba para lançar o vaticínio diretamente aos ouvidos de César (Shakespeare, Júlio César). As previsões numinosas não se depreendem das nuvens, mas do burburinho, das manifestações potenciais do povo em estado de mudança. E, quando essas manifestações prescindem de líderes e de programas, bastando-se com ligeiras palavras de ordem, os donos do poder têm maiores razões para preocupação.

Os governados não são mais um povinho. Há ocasiões em que são senhores de seu destino. “Há momentos em que os homens são donos de seus fados. Não é dos astros, caro Bruto, a culpa, mas de nós mesmos, se nos rebaixamos ao papel de instrumento.”

O inconformismo rebenta, por razões mal formuladas, mas latentes, e tudo fica incerto. Foi-se o desejo de César de que “ao meu lado só quero gente gorda, pessoas de cabelos luzidios, que dormem toda a noite”.

Assim se revelou o povo brasileiro nas jornadas de junho. Inúmeros jovens e famílias deixaram de permanecer na segurança das casas, onde os governados, se não genuflexos em torno do fogo, como na antiga Roma, permaneciam à frente dos enredos novelescos do século XXI, e grandes massas ganharam as ruas, de norte a sul, de leste a oeste.

Os titulares do poder cujos cabelos eriçados voltaram ao normal, depois que o “povinho” se transformou em magotes de mascarados, como se tivesse ocorrido um fenômeno inexplicável, episódico e que não será reiterado, a ponto de não abalar seu império crônico à frente das instituições estatais, enganam-se redondamente. Um acontecimento como esse, refletido em todo o mundo, está ancorado em muitas razões, embora muitas delas as próprias razões desconheçam. Se não retornar com as mesmas características, certamente será representado nas urnas; e aí os marqueteiros terão de rever seus conceitos, provavelmente sem êxito.

Pouco importa se nos faltaram ideias, propostas e a galvanização de um Cícero que “lançava olhares de furão, tão ardentes como no Capitólio o vemos, ao sentir-se contraditado pelos Senadores”. O Brasil carece de líderes carismáticos, o que não importa em sufocamento da rebeldia civil ou da revolução pelo voto.

A presidente Dilma afirma haver cumprido todas as suas metas. Em nosso modo de ver, não cumpriu nenhuma delas. “O olho a si mesmo não se enxerga, a não ser pelo reflexo com outra coisa” (Bruto). A responsabilidade fiscal, segundo ela própria, meta das metas, foi desobedecida às escâncaras, e seu maior exemplo é a inflação em torno de 6%. Dizer que o orçamento público está sob controle é zombar de nossa inteligência, como registrou editorial do jornal O Estado de São Paulo. A saúde está sucateada, com ou sem mais médicos. A educação se arrasta, ganha em quantidade o que perde em qualidade. Nossas melhores universidades despencaram do “ranking” das duzentas melhores do mundo. A infraestrutura está malparada e idem em relação aos apregoados investimentos do PAC. O Tribunal de Contas da União jamais foi tão mencionado como nos últimos governos do PT. O grosso dinheiro do petróleo na educação, se materializar-se, não se imagina antes de 2020, e sujeito às vicissitudes de um empreendimento do qual as mais importantes empresas do mundo se distanciaram. Tudo isso e muito mais.

O mal estar decorrente dessas circunstâncias voltará às ruas. Não sob o signo do aço perfurante da tragédia shakespeariana, mas nas urnas, agora com a presença de uma oposição que tomou uma forma razoável. Os contos de Shahrazad da presidente, ao longo do ano e da campanha, revelar-se-ão, maninha, como literatura mágica. O real não consegue ser disfarçado incessantemente pela demagogia. Nosso povo já demonstrou que sabe o que quer - ou, no mínimo, o que não quer - e que não mais é composto de sonolentos. Logo, não obstante as divulgações do IBGE, o PT e seu governo têm razões para tremer à lembrança dos idos de junho.


Nota do Editor: Amadeu Roberto Garrido de Paula é advogado.

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