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Opinião
01/11/2013 - 11h00
A multidão em nosso coração
Dartagnan da Silva Zanela
 

Silêncio, solidão e santidade. Eis aí três pedras fundamentais para dignificação da alma humana. Sem elas, lamentavelmente, o edifício do caráter desmorona, cedo ou tarde. Não é pessimismo, nem fatalismo. É realismo puro e simples.

Explico-me: o silêncio é essencial para a manutenção de nossa vida interior. Silêncio esse que é diariamente vilipendiado pela barulhenta e caótica sociedade moderna. Pior! Acostumamo-nos com a presença inquietante da balburdia da sociedade em nosso coração, esquecendo-nos do silêncio que tanto nos auxilia no cultivo dum diálogo interior e bem como na audiência dos conselhos de nossa consciência individual.

Sim, exteriormente, a agitação dá aquela sensação epidérmica de liberdade e auto-afirmação, entretanto, ela escraviza nosso interior por instigar-nos a estarmos o tempo todo ou a falar algo sem razão, ou a ouvir qualquer coisa sem sentido para preencher o vazio que passou a habitar o âmago de nosso ser.

Cabe lembrar que o silêncio, como nos ensina o Tristão de Athayde, não é sinônimo de privação do uso da palavra. No fundo, o silêncio é a substância dela, o seu sentido mais profundo. Por isso, uma sociedade como a nossa, onde se cultiva histrionicamente o falar pelo falar, o que inexiste é o tal do diálogo. Em seu lugar temos o velho verbalismo oco, alucinado, onde tudo torna-se assunto para nunca ser devidamente conhecido.

A todo o momento a vida moderna nos convida a distanciarmo-nos de qualquer atividade que nos leve a centrarmo-nos e é por isso que ficar só assusta-nos tanto. Todavia, da mesma forma que o silêncio, a solidão também é um dom precioso, pois nos liberta das multidões que salivam suas presas para nos devorar lentamente e transformar-nos em mais uma célula muda/tagarelante de seu corpo anódino, como nos ensina Nietzsche.

A solidão nos liberta da força voraz dos círculos de escarnecedores que abundam em todas as plagas, disfarçados com os mais variados e simpáticos epítetos. A solidão revela-nos, de mãos dadas com o silêncio, a real condição humana. Esse gentil casal faz-nos companhia nesta jornada de aceitação do velho mandamento inscrito nos umbrais do templo do oráculo de Delfos que nos recomenda conhecermo-nos. A conhecer esse sujeito que imaginamos conhecer tão bem, mas que, no fundo, não passa de um ilustre desconhecido.

Por fim, esse casal pode gestar em nossa alma o excelso valor que a carne rejeita, o mundo despreza, o demônio escarnece e somente a Graça concede. Esse valor é a Santidade que nos foi revelada pelo Verbo Divino no madeiro da Santa Cruz, no silêncio do Calvário, na dolorosa solidão dos cravos atravessados em sua carne e que semeou no coração duma multidão silenciosa e solitária de santos que, com suas vidas exemplares, nos convidam a caminhar na direção da divina verdade que habita o nosso ser e que hoje é tão silenciada e flagelada pela multidão que não ouve e não cala para conhecê-La e conhecer-se.


Nota do Editor: Dartagnan da Silva Zanela é professor e ensaísta. Autor dos livros: Sofia Perennis, O Ponto Arquimédico, A Boa Luta, In Foro Conscientiae e Nas Mãos de Cronos - ensaios sociológicos; mantém o site Falsum committit, qui verum tacet.
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