Não devemos perguntar se é certo ou não o uso de animais (e de seres humanos) nas pesquisas clínicas e científicas. A pergunta deve ser: podemos prescindir dessas pesquisas? Qual o ônus dessa decisão? Em que outras condições devemos realizá-las? As pesquisas foram responsáveis pela mudança de curso da civilização, trazendo curas e inovações nas ciências. A pesquisa é o preparo para o novo e tudo faz parte da experimentação e da evolução. Um resultado negativo em pesquisas também é importante nas pesquisas, pois mostra caminhos novos a serem seguidos. As descobertas de vacinas, antibióticos, soros e medicamentos para HIV, câncer, doenças raras e outros, certamente não seriam possíveis sem os ensaios clínicos. É muito improvável que avanços nas áreas de biomedicina, biotecnociência, farmacocinética, engenharia genética, farmacogênese fossem feitos sem os estudos clínicos e científicos. Estamos vivendo um momento que merece respeito, reflexão, mas, acima de tudo, informação e esclarecimentos. Não existe ciência se não houver divulgação. Realmente, falar e agir impulsivamente é muito fácil. Mas será que as pessoas “resgatadoras” dos animais ou que aplaudem tal atitude, pensaram nas consequências maléficas que poderão (ou não) acontecer com eles, sem o devido acompanhamento e tratamento pós-testes necessários e obrigatórios por lei, a mesma lei que pune e proíbe os abusos contra os animais e atos que possam submetê-los ao sofrimento? Os céticos não usam ou nunca usaram sapatos, carteiras, jaquetas ou bolsas de couro; agasalhos ou cobertores de lã, blusa ou camisa de seda, travesseiros macios recheados com penas de ganso etc. tudo provenientes de animais? Não fazem uso de xampus, sabonetes, desodorantes, perfumes, cosméticos, alimentos, maquiagem, medicamentos, vacinas ou até mesmo uma anestesia, quando de um procedimento cirúrgico ou tratamento dentário? Quem até hoje nunca usou uma simples sacolinha plástica ou uma bicicleta, em cuja composição dos pneus existe uma substância de origem animal? Usando como analogia de um clássico literário podemos indagar: “Quem és tu que queres julgar, com vista que só alcança um palmo, coisas que estão a mil milhas?” (Dante Alighieri). Então, basta se informar e raciocinar para entender que a civilização humana desde sempre usou e foi usada para a sobrevivência no Planeta Terra e atualmente, está difícil pensar em algo que consumimos ou utilizamos com o qual os animais não tenham contribuído. Na verdade, os animais não são os melhores modelos para testes clínicos de produtos destinados ao uso do ser humano, mas, infelizmente, o Brasil ainda não tem capacidade de desenvolver biológicos sem testes em animais. Os grandes avanços da biociência e biomedicina não teriam sido possíveis sem as pesquisas clínicas. Só se percebe a importância desses estudos quando nos deparamos com notícias esperançosas como a cura da AIDS, do câncer, do Alzheimer, da dengue, da AIDAS, de vacinas preventivas e de tantas outras de igual periculosidade para os homens. A saúde animal também depende de pesquisa, tanto para remédios, alimentos, vacinas, acessórias como a tudo que destina a seu uso. É bom esclarecer que somente na Fase Pré-clínica os testes são feitos com os animais, depois de identificado o potencial terapêutico na experimentação “in vitro”. O objetivo dessa fase é testar a biossegurança dos fármacos para garantir que possam ser utilizados pelo ser humano. As fases seguintes são feitas em pessoas voluntárias de pesquisa que se submetem aos testes em benefício da humanidade. Existe um grande empenho por parte dos cientistas e pesquisadores no mundo todo, no sentido de seu utilizar métodos alternativos ao invés de animais. Mas nem tudo é possível de imediato e uma substituição definitiva ainda levará algum tempo para se tornar realidade. Nota do Editor: Dra. Conceição Accetturi é médica Infectologista, doutora pela UNIFESP, presidente da SBPPC – Sociedade Brasileira de Profissionais de Pesquisa Clínica (www.sbppc.org.br) e diretora médica da Invitare.
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