Tenho sido um recorrente crítico da revista Veja, mas a reportagem desta semana sobre as ligações políticas e financeiras entre as FARC e o PT, por mais ressalvas que possam ser feitas do ponto de vista jornalístico, deve ser considerada um marco e uma prova de coragem e independência dos proprietários e editores da revista. Todos sabemos do poder econômico governamental sobre a mídia, especialmente no atual momento em que quase nenhum órgão de imprensa tem autonomia financeira, dependendo das verbas governamentais para a própria sobrevivência.

Não cabe a nenhum veículo julgar, sejam pessoas, sejam instituições. Cabe informar. Veja o fez, embora pudesse ter dado nomes aos bois, como ao Foro de São Paulo, cujo primeiro secretário foi Lula. Está implícito na matéria, mas a história do Foro, sozinha, teria conteúdo para uma edição especial. O partido governante e o presidente da República estão institucionalmente ligados aos movimentos armados revolucionários das Américas, que, por sua vez, estão mancomunados com criminosos, traficantes e seqüestradores, com objetivo último de levantar recursos para implantar na América Latina o "terreno perdido" no Leste Europeu, com a queda o império soviético.

Cabe ao Congresso Nacional julgar politicamente, mediante uma Comissão Parlamentar de Inquérito, e ao Poder Judiciário os indícios de eventuais crimes praticados por autoridades, diante das provas levantadas. Veja deu sobejo material para que processos assim possam ser iniciados. Os brasileiros precisam da verdade, que só pode ser averiguada politicamente e juridicamente pelos órgãos competentes. A revista foi até onde podia diante das provas disponíveis e dos riscos empresariais e jurídicos que corajosamente se dispôs a correr.

O mais relevante é que a reportagem colocou na agenda do dia esse fato da maior gravidade. Não há como a imprensa em seu conjunto e as instituições ignorarem tamanho fato político. Se o Congresso Nacional tiver a coragem necessária poderemos ver um processo político muito parecido com aquele vivido pelo ex-presidente Collor. O fato é simplesmente estarrecedor, embora não seja novidadeiro, pois quem acompanha a arena política brasileira há muito está bem informado do tema tratado na revista. A novidade é Veja dar a notícia, envolvendo a opinião pública mais ampla e as instituições.

Também não podemos ignorar o seu impacto sobre a sucessão presidencial que se aproxima. A revista deu às oposições um grande poder de fogo político, mesmo que as instâncias do Congresso Nacional e do Poder Judiciário ignorem os fatos. A cada dia fatos novos como esse transformam a candidatura do presidente Lula em pó.

Uma CPI sobre o caso fatalmente chegaria à misteriosa morte do prefeito Celso Daniel e explicaria como o obscuro prefeito de uma cidade de interior se transformou no pilar de sustentação do governo, no plano econômico, ao lado do ministro Dirceu, no plano político. Faríamos história se a conexão entre os fatos fossem estabelecidas.

A reportagem é uma grande prova de que a nossa democracia, com todas as dificuldades, está de pé. É preciso fortalecê-la, alijando do processo políticos os grupos radicais comprometidos com as tiranias genocidas, de triste memória.

Nota do Editor: José Nivaldo Cordeiro é economista e mestre em Administração de Empresas na FGV-SP.