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Opinião
13/11/2013 - 17h00
Quando o beicinho dobra a esquina
Dartagnan da Silva Zanela
 

1. Colar rótulos. Isso é tudo que a gente inteligente inclina à sinistra, ou totalmente mergulhada nela, sabe fazer. Eu imaginava que tal cancro já estava relativamente superado ou, ao menos, em declínio. Ledo engano. O discernimento carece a essa gente, apesar de julgarem-se portadores avantajados desse bem. E o pior é que o bestiário não variou muito nos últimos tempos. Os mesmos cacoetes ditos e repetidos a alguns decênios passados continuam sendo os mesmos a imperar atualmente. Porém, com um detalhe: evoluíram! Hoje conseguem ser mais superficiais e obtusos do que os canhoteiros de antanho, crendo-se, obviamente, mais ilustrados e abertos que qualquer um, principalmente daqueles que eles fixam seus despudorados rótulos. Daria mesmo para elaborar um dicionário com essas aberrações. O problema é que não haveria uma clara definição para os termos vazios utilizados por essa gente. Daria um belo volume com muitas palavras e nenhum conteúdo.

2. Fenômeno muito comum, que denota o grande mal estar que perpassa as esferas etéreas dos diplomados, é a forma leviana com que se julga um autor e seu trabalho. Tal jugo não é realizado através do devido conhecimento de sua obra, mas sim, por meio dos rótulos que lhe são fixados. Permitam-me um exemplo: lembro-me que durante anos tive aquela visão velha e tacanha da obra de Plínio Salgado. Digo, de sua pessoa. E assim foi até que resolvi ler algumas de suas obras. Para minha surpresa, o que me foi revelado foi uma figura humana de grande valor, um homem que manuseava muito bem as letras, com muitas considerações e observações interessantes e outro tanto de idéias equivocadas. Dum jeito ou doutro, alguém muito diferente do estereótipo que eu tinha antes de lê-lo. Por isso, penso que sua obra deveria, sim, ser lida. Penso também que sua pessoa não merece a demonização que sofre nas estultas mãos da patrulha ideológica rubra. De mais a mais, ler e estudar não mata ninguém, apesar deste ser o credo reinante em nosso país que se ufana de qualquer balburdia vazia.

3. Conhecer não mata. Entretanto, orelhar um assunto de maneira superficial é mais que temeroso. É mais perigoso que a ignorância por nos dar a sensação epidérmica de sermos profundos conhecedores do assunto. Em vista disso, a arbitrariedade grita mais alto que os brados de liberdade e, consequentemente, transforma a vida em sociedade numa arena de vilões de parca dignidade. Por isso, digo e repito: conhecer não mata, ignorar nos torna objetos impotentes e, inevitavelmente, quanto a segunda se fantasia da primeira, transmutamo-nos numa besta voraz que alimenta-se da carne, do sangue e da alma de tudo que lembre a face humana, inclusive do sujeito transmutado no ogro sedento que também devora, lentamente, o que resta de humano em seu ser.

4. O historiador Pierre Nora ensina-nos que: “A história é reconstrução sempre problemática e incompleta do que não existe mais. A memória um fenômeno sempre atual, um elo vivido no eterno presente; a história, uma representação do passado”. Bem, o que torna mais problemático esse quadro entre nós é que a representação do passado é sempre feita por uma dúzia de cacoetes mentais, de estereótipos materialistas, cientificistas, propagados com toda aquela pompa de superioridade intelectual a moldar a memória presente. E, tal operação, é feita justamente por aqueles que acreditam estar investidos duma beca sacerdotal, como se fossem os guardiões da memória e únicos intérpretes da história. Pra piorar o quadro, estes sujeitos estão muito mais próximos dum bando de vigaristas baratos do que dum sacerdote que sacrifica suas convicções políticas, ideológicas e pessoais em favor da procura sincera e abnegada pela Verdade. Sim, já sei que essa gente dirá que não existe verdade, ainda mais uma verdade histórica, que tudo é um constructo ao mesmo tempo em que farão aquela cara feia, com um olhar sanguíneo, para que você não desacredite das lorotas que ele lhe contará como se fosse a mais cristalina verdade.


Nota do Editor: Dartagnan da Silva Zanela é professor e ensaísta. Autor dos livros: Sofia Perennis, O Ponto Arquimédico, A Boa Luta, In Foro Conscientiae e Nas Mãos de Cronos - ensaios sociológicos; mantém o site Falsum committit, qui verum tacet.
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