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Opinião
16/11/2013 - 12h01
Tá todo mundo louco, oba!
Montserrat Martins
 

Não lembro quem cantava “tá todo mundo louco, oba!”, mas seria a música perfeita para um comercial de Ritalina, de Rivotril, de Risperidona, um trio Ri-Ri-Ri que faz rir e enriquecer mais ainda a indústria farmacêutica – uma das cinco mais lucrativas do mundo (entre as quais também a indústria de armas), movimentando quase um trilhão de dólares por ano, tendo a Aspirina como “carro-chefe”.

O psiquiatra Dale Archer alerta que a medicina transformou comportamentos normais em doença, em seu livro “Better than normal” (“Quem disse que é bom ser normal?” na edição brasileira). O questionamento não é novo mas fazia tempo que esse tipo de alerta não repercutia tanto, a ponto de se tornar um “best seller” americano, numa sociedade que está na “vanguarda do artificialismo” mundial.

Dos clássicos sobre o assunto, as novas gerações merecem conhecer “O Alienista” de Machado de Assis e o “Admirável Mundo Novo”, de Aldous Huxley. Proféticos, previram tanto o exagero de diagnósticos (Machado) quanto ao modismo das pílulas como modo de acesso à felicidade (Huxley).

Já vi debates nas redes sociais onde usuários de Ritalina, ou pai das crianças medicadas com ela, defendem seu uso e enaltecem o efeito do remédio sobre suas vidas e a de seus filhos. É verdade, são depoimentos importantes porque mostram que o progresso científico, inclusive o dos psicofármacos, é um avanço da civilização no tratamento contra doenças e no alívio de sofrimentos. Quero deixar claro que, sendo psiquiatra, eu também prescrevo esses medicamentos e fico gratificado em ver o alívio dos sintomas produzidos nos pacientes. Pra não deixar dúvidas: sou a favor do uso de psicofármacos, do progresso da ciência, das pesquisas que desenvolvem medicamentos cada vez mais precisos e específicos. Pronto, está dito.

Por outro lado – e isso também tem de ser dito claramente – os benefícios desses recursos bioquímicos não isentam de verdade também o outro lado da moeda, que inclui efeitos colaterais, dependências físicas e psicológicas. É tão verdade dizer que os psicofármacos ajudam quanto dizer que atrapalham, tudo vai depender de cada caso, de cada situação específica, se a substância foi bem ou mal indicada, na dose certa ou não, se o diagnóstico foi exato ou impreciso, se a prescrição foi adequada ou exagerada. “Cada caso é um caso” é um sábio aforisma da Medicina.

Ainda não li o livro do Dr. Dale Archer, mas com certeza vou comprar e ler com toda a atenção. Sendo que passamos bem mais tempo expostos às propagandas das maravilhas das novas biotecnologias, alertas são sempre bem-vindos. A inovação em métodos diagnósticos sobre a TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade) é um modismo forte e tenho visto ser oferecido por estudantes de psicologia, voluntariamente, em atividades comunitárias.

Quer dizer, mais pessoas receberão gratuitamente seu diagnóstico de que tem TDAH, dando acesso aos mais pobres ao seu primeiro diagnóstico psiquiátrico, cada vez mais precocemente. Numa evolução previsível, qualquer dia podem ser incluídas nas bolsas do governo federal os medicamentos para a síndrome da moda – a não ser que prestemos mais atenção à seriedade do alerta do Dr. Archer.

Ah, achei na internet que foi o Sílvio Brito (sucesso nos anos 70) quem compôs o “tá todo mundo louco, oba!”, em que cita na letra também o Raul Seixas. Tá merecendo uma regravação, num ritmo funk, com um clipe gravado numa UPP, com o patrocínio dos laboratórios, naturalmente.


Nota do Editor: Montserrat Martins, colunista do Portal EcoDebate, é psiquiatra. Fonte: Portal EcoDebate (www.ecodebate.com.br)

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