Por que o Brasil continua atrasado, subdesenvolvido e pobre? A resposta a essa pergunta acabou dando margem à proliferação das mais absurdas teorias, como, por exemplo, a da expropriação colonialista e, mais recentemente, a do malévolo imperialismo norte-americano. Se, como disse o novo Messias dos trópicos, "o melhor do Brasil é o brasileiro", nossas mazelas só podem ser conseqüência de fatores externos, independentes da vontade desse povo tão brilhante, educado, tenaz e produtivo. Contrariamente aos adeptos dessas teses paranóicas, acredito que tudo o que se fez em Pindorama, certo ou errado, desde a sua independência, foi por moto próprio dos seus governantes e cidadãos. Portanto, se ao invés de perdermos tempo criando teorias malucas, salpicadas de despeito e inveja, para explicar os nossos fracassos, focássemos a atenção nas lições que o passado nos transmite, não seria difícil deduzir aonde erramos e, ato contínuo, descobrir as soluções corretas. Eu começaria dissecando o imensurável prejuízo causado pelo nacionalismo econômico que predominou por aqui à partir de meados do século passado. Essa política anti-liberal, justificada pela falácia que culpava as "práticas comerciais injustas" (vendíamos matérias primas baratas e importávamos produtos acabados caros) pela situação de penúria do povo, prescrevia reservas de mercado para as indústrias locais, cotas de importação, controles de câmbio e desvalorizações periódicas da moeda como formas mais eficientes de tirar o país do atraso. As recorrentes práticas protecionistas e inibidoras da livre concorrência trouxeram como corolários o atraso tecnológico e a perda paulatina, porém incessante, de eficiência e produtividade das empresas. Por outro lado, esse modelo favoreceu algumas elites empresariais, cujas estratégias para maximização dos lucros deixaram de estar voltadas para a satisfação do consumidor e o desenvolvimento de novas tecnologias, e passaram a priorizar certas "relações sociais" espúrias com políticos e servidores públicos. Nascia ali a sociedade entre o público e o privado, tão comum por essas bandas, cuja atuação funesta não cessa de criar obstáculos e impor prejuízos ao país. Concomitantemente, começou um longo processo de estatização da economia, com o(s) governo(s) aboletando-se cada vez mais nas chamadas "indústrias estratégicas", como petróleo, eletricidade, telefonia, mineração, siderurgia, bancos etc. Assim, não é de se estranhar que tivesse havido uma rápida deterioração de alguns serviços públicos. Quem não se lembra da batalha que era conseguir a instalação de um telefone, a prática corrente do pagamento de subornos aos barnabés, os cortes de energia praticamente diários e tantos outros dissabores a que fomos submetidos durante tantos anos? Com políticos, burocratas e servidores cada vez mais focados e interessados (interesse próprio, evidentemente) na administração dos gigantescos conglomerados públicos e dos inúmeros projetos faraônicos que grassavam nos quatro cantos do país, não é necessário muito esforço intelectual para compreender porque algumas das atividades essenciais do Estado - segurança pública, administração judiciária e educação básica - começaram um longo processo de deterioração, cujos resultados estamos sentindo na pele agora. Toda esta estupidez, aliada à irresponsabilidade daqueles que resolveram financiar uma política desenvolvimentista calcada no endividamento externo e na emissão desmedida de moeda, gerando a mais prolongada hiperinflação de que se tem notícia na história da humanidade, só poderia mesmo dar no que deu. Enquanto as nossas elites políticas não compreenderem que os níveis de investimento, de produção, de consumo, de renda da população e o crescimento econômico são as manifestações do desenvolvimento, não as suas causas; que os agentes determinantes do progresso e da prosperidade são o fortalecimento das instituições, a liberdade de iniciativa, o respeito irrestrito à propriedade privada, o investimento maciço em educação, governos limitados e, last but not least, o Estado de Direito, não conseguiremos deixar para trás o fantasma do subdesenvolvimento. Só não vê quem não quer. Nota do Editor: João Luiz Mauad é empresário e formado em administração de empresas pela FGV/RJ.
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