O reajuste automático – ou “gatilho” – popularizado no Plano Cruzado, com o fracassado objetivo de evitar que a inflação continuasse corroendo o salário dos trabalhadores, e proscrito da economia nacional pelo Plano Real, ameaça voltar. A Petrobras tenta convencer a presidente Dilma Rousseff e o ministro Guido Mantega a aprovar o aumento automático da gasolina e do óleo diesel sempre que aqueles combustíveis tiverem reajuste no mercado internacional. O argumento é que, com a atual política de reajustes, a estatal petrolífera, que tem o governo como sócio majoritário, acumula elevados prejuízos e isso levará colapso ao seu programa de investimentos. Dilma e Mantega empurram o tema para o futuro pois sabem que a adoção do gatilho poderá representar a volta da inflação em larga escala, já que os preços de todas as mercadorias estão intimamente ligados ao dos combustíveis. Afinal, tudo depende de diesel ou gasolina para sua produção e chegada ao consumidor. A cada “gatilhada” no petróleo, ninguém conseguirá segurar a repercussão no arroz, feijão, carne, manufaturados e toda a cadeia de consumo. Além disso, também ficará desmistificado o discurso eleitoreiro de que o Real e os governos pós 94 acabaram com a inflação. A Petrobras que o diga! Estamos todos sobre a cratera de um vulcão prestes a explodir. E o governo, em vez de acudir, mantém o discurso de regularidade, dá nosso dinheiro, sem qualquer reciprocidade, à Bolívia, Cuba, Venezuela e países africanos e, internamente, distribui as “bolsas”, que sustentam seu status político-eleitoral. Desembolso sem retorno é uma das alavancas inflacionárias, assim como a gastança e os escândalos econômicos de que se tem conhecimento. Para retardar o caos, sucateia-se a Petrobras, com prejuízos aos seus acionistas, através da tabela achatada para os combustíveis, e busca-se desesperadamente manter os confiscos aos bens e rendas do povo. A cruzada que representantes governistas fazem para evitar que o Supremo Tribunal Federal repare os prejuízos dos Planos Econômicos à poupança e aos investimentos é prova disso. A fala oficial é que uma decisão a favor dos investidores desequilibrará a economia nacional; mas nada se diz sobre os rios de dinheiro que se joga fora para manter o status político, eleitoral e ideológico. O Plano Real, de que tanto se beneficiaram eleitoralmente os governos das duas últimas décadas, parece estar se esgotando. A economia nacional padece com enormes gargalos, desnacionalização e outros problemas. Resolver a crise da Petrobras é dever do governo. Mas, com o gatilho, poderá reacender o monstro da inflação e o Brasil voltar a viver toda aquela ciranda onde uma mesma mercadoria pode ter três preços num só dia. Aí, todos pagaremos o preço da aventura... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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