Brasil, hoje: Mensalão, cartel do trem, sanguessugas, helicóptero do deputado com drogas, deputados recolhidos ao presídio, licitações fraudulentas, hospitais sucateados, médicos fraudando o ponto, policiais e até juízes caçados e mortos por facções criminosas que controlam os presídios, zonas urbanas e rurais dominadas pelo tráfico e milicianos, black blocs, seqüestros, saidinha de banco, explosão de caixas eletrônicos, assaltos e latrocínios. Apesar desse assustador cotidiano, o irresponsável discurso oficial é o de um país feliz, próspero, seguro, de grandes oportunidades e franco desenvolvimento. Nesse panorama, governo e políticos, realizados, empenham-se na constituição de suas bases para as eleições e reeleições, que só ocorrerão daqui a dez meses. Por conta do sórdido clima eleitoral deflagrado precocemente, vemos com nojo agora a troca de acusações e armações entre prováveis concorrentes, chegando agora à fase fantástica em que, aproveitando-se dos holofotes, vão se processar mutuamente, com o aval da presidente da República. O cumprimento da pena pelas vedetes do mensalão é um show cinematográfico, onde a prisão da Papuda, com tapete vermelho, é transformada em hotel de alta rotatividade, e o salário obtido pelo megapresidiário José Dirceu – R$ 20 mil mensais – é de causar inveja à esmagadora maioria dos brasileiros. É inegável que o Brasil cresceu nas três últimas décadas. A indústria, consagrada pelos esforços dos empresários, ampliou-se e chegamos à condição de país tecnológico. Mas a evolução econômica não teve a contrapartida social. A educação não qualifica o estudante para os novos desafios do mercado. A saúde é cada dia mais deficiente, por falta de investimentos, corrupção e vícios. A habitação é dramática, com a ocupação crescente e várzeas e encostas, entre outros problemas. Tanto que ao mesmo tempo em que somos a sexta economia do mundo, o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) medido pela ONU, nos coloca em 85º lugar, junto às nações menos desenvolvidas do planeta. O brasileiro vive o grande drama de ser pobre e viver num país rico e sem segurança para a população. Já não bastam mais a segurança privada implantadas nas moradias forradas de grades, cercas elétricas e sensores (para os que podem pagar). E, mesmo assim, os governantes e políticos, só pensam nas próximas eleições. E aqueles artistas e intelectuais, que se notabilizaram por combater a ditadura. Onde estão? Seria essa Belíndia (Bélgica misturada com Índia, conforme definiu Edmar Bacha) o país com que sonhavam naqueles tempos de militância? Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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