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Opinião
30/11/2013 - 17h08
Entre a caverna e a Matrix
Dartagnan da Silva Zanela
 

Em sua obra “A origem da Linguagem”, Eugen Rosenstock-Huessy afirma, com a serenidade que lhe é característica, que a saúde moral e cognitiva de um grupo depende da origem da linguagem de seu meio, depende das realidades que os símbolos, que compõe o meio sócio-cultural, nos remetem. Por isso, chega ser desesperador quando refletimos sobre as fontes da linguagem circulante e bem como sobre os símbolos que são utilizados corriqueiramente para referirmo-nos as realidades que se apresentam de modo fugidio, ou direto, em nosso dia a dia.

Tendo isso em vista não temos como nos esquivar duma alegoria que com freqüência é apresentada como uma figura análoga ao mito da caverna, apresentado no livro VII da República de Platão. A figura em questão é a trilogia Matrix dos irmãos Wachowski. Quando se menciona o mito platônico, rapidamente, muitos o comparam com a referida produção cinematográfica.

Ora, e não se pode fazer isso? Olha, você pode fazer o que quiser. Entretanto, reflitamos sobre a saúde de nossa sociedade a partir desta pequena amostra. Num primeiro momento, percebemos muitos elementos que aproximam os dois cenários, porém, se nos colocarmos no lugar do prisioneiro da caverna e bem como do senhor Thomas A. Anderson do filme Matrix e vivermos, imaginativamente, os dramas de cada uma das personagens, perceberemos diferenças específicas gritantes entre as duas narrativas.

O prisioneiro, por um ato da Graça (ou por mero acaso) liberta-se de seus grilhões e foge da caverna seguindo o feixe de luz que adentra o sombrio covil para chegar à realidade banhada pela luz solar, pela Verdade, que impacta sua alma e inunda-a de júbilo ao ponto de desejar partilhar tal contento com os seus que ainda se encontram agrilhoados no reino das sombras. Resumindo: literalmente temos diante de nossas vistas uma experiência de ascese.

Muito bem, e na “versão” distópica dos irmãos Wachowski, o que temos? Nela, a realidade seria uma ilusão construída por um Demiurgo (um Deus maligno) e o que é apresentado como sendo o mundo real, é um horizonte sem luz (o céu foi queimado), sombrio, lúgubre, sem vida e a cidadela da liberdade encontra-se no subsolo. Trocando por miúdos: o caminho trilhado é literalmente oposto ao do mito platônico. Detalhe: quando Neo desperta, ele é jogado no que um dia foi o sistema de esgoto duma grande metrópole. Bem sugestivo, diga-se de passagem.

Em suma, tal imagem, em seu uso analógico com o cavernoso mito helênico, revela a dimensão luciferina dos símbolos que compõe a cultura contemporânea que ao invés de apontar para o que há de mais elevado na alma humana, convidam-nos a fecharmo-nos num tribalismo de idéias furibundas que toma o lugar da sabedoria universal, como nos ensina Mário Ferreira dos Santos em seu livro “A invasão vertical dos bárbaros”.

Vivemos imersos nesta gritaria inarticulada de relativismos mil que nos são repetidos de maneira hipócrita e que repetimos hipnoticamente na vã crença de que estamos ascendendo intelectualmente ao mesmo tempo em que nos descolamos de tudo que nos humaniza, caindo numa triste bestialidade que imola nossa humanidade, em favor de grosseiros impulsos e desejos, na ilusão de estarmos nos emancipando de tudo, de todos e de nós mesmos.


Nota do Editor: Dartagnan da Silva Zanela é professor e ensaísta. Autor dos livros: Sofia Perennis, O Ponto Arquimédico, A Boa Luta, In Foro Conscientiae e Nas Mãos de Cronos - ensaios sociológicos; mantém o site Falsum committit, qui verum tacet.
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