Presos os primeiros mensaleiros, o país agora conhece o “jus sperniandi” do PT, o superemprego de José Dirceu (compatível com seu nível, mas exagerado se comparado ao ganho do povo), as empresas de fachada e, mais uma vez, vê a renúncia estratégica. José Genoíno renunciou ao mandato de deputado para não ser cassado, e assim deverão fazer os demais parlamentares condenados. Os mentores e operadores do escândalo de compra de votos de congressistas estão presos ou em vias de sê-lo. E aos beneficiários do esquema, reconhecidamente criminoso, o quê deverá acontecer? Quem se beneficiou dos votos comprados e quem vendeu o próprio voto – corruptor e corruptos – vão sair ilesos? Isso, à luz dos mais comezinhos princípios, é uma grande injustiça. O mensalão, em verdade, é apenas a prática exacerbada da corrupção endêmica que preside as relações políticas e administrativas em todo o país. Da forma que é montada a nossa estrutura eleitoral, os candidatos ao Executivo que, se eleitos, vão administrar a máquina pública e o grande bolo de dinheiro vindo dos impostos cobrados da população, são obrigados a barganhar com seus adversários e oferecer benesses para que formem juntos uma base eleitoral. Depois de eleitos, presidente da República, governadores e prefeitos saem atrás dos parlamentares e os adquirem através da nomeação de cabos eleitorais, promessa de obras e outras vantagens. Só não se vendem os que têm efetivo compromisso com suas posições e convicções (coisa que todos deveriam ter) ou os que vêem na oposição melhor terreno de atuação do que se aderirem às bases governistas. O loteamento do poder leva para dentro das repartições e palácios governamentais figuras que, por conta própria, sequer conseguiriam passar pela porta desses centros de poder. Vão parar lá através dos cargos de livre nomeação, que se tornaram uma prostituída moeda de troca na política brasileira. A armadilha é tão bem engendrada que, se o Executivo não coopta o Legislativo, o governo é por ele travado e, se o atrai, acaba avacalhado pelos cabos eleitorais, apaniguados e amantes que têm de contratar. Nessa devassidão, fica fácil imaginar porque ocorrem as falcatruas, os escândalos e as corrupções. Muitos desses senhores e senhoras são encarregados de produzir “filhotes” para sustentar as próximas campanhas eleitorais. E toma-lhe, mais mensalões, licitações viciadas, cartéis e outras roubalheiras. Enquanto o Brasil mantiver o atual e imoral sistema de composição eleitoral e governamental, o voto do eleitor continuará desrespeitado e trocado pelo interesse dos grupos. A promiscuidade do poder destrói a representação. Não será difícil que os mensaleiros hoje presos e lançados à execração, ainda sejam reconhecidos como vítimas do sistema, principalmente se os reais beneficiários da corrupção continuarem impunes... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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