Resposta: principalmente, aos falcões do Congresso Americano e ao governo de Israel. É comezinho que os acertos internacionais são complexos e paulatinos. Nessa conjuntura única se insere o recente acordo de Genebra, celebrado entre o Ocidente e o Irã. Um prólogo de um programa decisivo para o futuro humano. Primeiro, as sanções esmagadoras contra a economia iraniana foram relaxadas. Cumpre-se, assim, promessa de seu atual presidente, Hassan Rohani, muito diferente da anterior figura aloprada que convenceu Luis Inácio Lula da Silva e Marco Aurélio Garcia de que seriam os salvadores do mundo. O acordo foi celebrado sob os aplausos do Aiatolá Supremo, Ali Khamenei. Preambular, são naturais as incertezas futuras sobre o sucesso definitivo das negociações. Porém, as perspectivas são positivas. A aproximação, em si, já representa um significativo avanço. Por outro lado, não há fundadas razões para suspeitar-se do descumprimento das avenças, salvo a tradição de deslealdade pactuante do interlocutor; o Irã não terá nenhuma vantagem em enriquecer o urânio acima de 5%, como pactuado, para desenvolvimento pacífico da energia; e não terá prejuízo em manter o urânio disponível sob estoque em seu território. No ponto, impõe-se a pergunta: qual a vantagem do Brasil em receber boa parte desse estoque? Lula com a palavra. Por fim, congelar a expansão das centrífugas também não traz dificuldades para o país dos aiatolás, o mesmo se podendo dizer da interrupção da usina de Arak, com seu plutônio capaz de gerar bombas nucleares. E tudo isso não ficará sob o arbítrio do Irã, porquanto se convencionaram inspeções constantes, intrusivas e não agendadas da Agência Nuclear de Viena, como deixou bem esclarecido o ex-chanceler do governo FHC, Luis Felipe Lampreia, em matéria publicada em O Estado de S. Paulo de 4 de dezembro de 2013. No entanto, em política o bem comum sempre está em contraposição dialética a interesses privados incrustados no poder. Os republicanos americanos, dando prosseguimento à estratégia de agravar e impor perdas enfraquecedoras ao presidente Barack Obama, e o Estado de Israel, cujos cidadãos são os principais financiadores das eleições dos EUA, insistem em que o acordo foi produto da ingenuidade de todos os países da comunidade européia e dos Estados Unidos, ludibriados como um camponês que desembarca numa estação urbana por muçulmanos espertos. Em verdade, dão vazão em manter os conflitos para materializar seus interesses financeiros nos lucros da indústria bélica, pouco se lhes dando se ela pode destruir o planeta e acabar com a humanidade, desde que seus estratos bancários permaneçam azuis. Nota do Editor: Amadeu Roberto Garrido de Paula é advogado.
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