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Crônicas
12/12/2013 - 09h00
Sargento Raimundo
Orlando Silveira
 

Faz uns quarenta anos que não o vejo. Não sei se está vivo, espero que sim. Brinquei muito com seus dois filhos, Júnior e André, dos oito aos dez anos, na infância pobre de Engenheiro Goulart. Do nome da filha caçula não me lembro: era bebê, não brincava com a gente, claro. Não tinha idade para jogar bola de gude, empinar quadrado, muito menos para rodar pneus pelas ruas íngremes e sem asfalto daquele bairro esquecido pelas “autoridades”, situado pra lá da Penha, onde a maioria das casas estava sempre por esperar (inutilmente) reboque nas paredes.

Nossa casa era tida como uma das melhores da região. Era pintadinha, tinha até jardim, calçada e um carro “luxuoso” na garagem estreita, sob a laje para estender as roupas no varal. O que, de certa forma, conferia certo status ao pai e à mãe. Para complementar, o pai era um homem diferenciado: comprava – e lia – livros. Já tinha uma pequena biblioteca. Por isso, o chamavam de professor.

Em junho, nossas festas juninas eram sagradas. Cada vizinha trazia alguma coisinha. Quem nada podia trazia apenas sua penca de filhos. Já naquela época, ouvia minha avó, mãe do pai, dizer que o Sargento Raimundo não batia muito bem da cabeça. Afirmação que era referendada pelos adultos de casa e da vizinhança. Eu não entendia bem por quê. Só achava divertido ver aquele crioulo forte e trabalhador (como todo policial já era obrigado a fazer bicos) com seu jeito impaciente, meio estabanado.

Voltamos para o Brás. A mãe jamais suportou morar ali, em Engenheiro Goulart. O pai comprou um apartamento no nono andar de um prédio, onde mora até hoje. Nossa vida melhorara. E foi aí, mais crescido, que comecei a desconfiar que, de fato, Sargento Raimundo não tinha todos os parafusos. Por mais de uma vez, foi até nosso apartamento, pegou o elevador e, em vez de tocar a campainha, enfiou um bilhete debaixo da porta e partiu, sem nos ver. O que diziam os bilhetes? Coisas assim: “Estamos bem, graças a Deus. E vocês? Espero que estejam também. Apareçam. Abraços. Sargento Raimundo”.

Mas, aparecer como? Eles também haviam mudado de casa. E não deram o novo endereço para ninguém.


Nota do Editor: Orlando Silveira mantém o Blog do Lando.

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