Questiona-se se JK e Jango teriam (ou não) sido assassinados. Militares ligados à ditadura vão ao banco dos réus. Isso depois de todos os envolvidos na contenda dos chamados anos de chumbo, tanto de um lado quando do outro, terem se beneficiado da Lei da Anistia, que perdoou os insurgentes, seus seguidores e seus combatentes. E se descobrem que os dois ex-presidentes foram assassinados? O que muda no Brasil de hoje? A Lei da Anistia (nº 6.683/79) descriminalizou todos os que “cometeram crimes políticos ou conexo com estes, crimes eleitorais, aos que tiveram seus direitos políticos suspensos e aos servidores da Administração Direta e Indireta, de fundações vinculadas ao poder público, aos Servidores dos Poderes Legislativo e Judiciário, aos Militares e aos dirigentes e representantes sindicais”. Na verdade, foi o grande acordo que permitiu a volta dos exilados e retornou o país à normalidade democrática. A história tem o direito de saber o que aconteceu com JK, Jango e todos os que se confrontaram no passado. Em relação a esses e outros notáveis, isso provavelmente ainda virá à tona, mas dificilmente produzirá efeitos jurídicos ou punições pois, afora a Anistia, mesmo que tenha havido crime, a maioria dos seus executores já está morta ou prestes a morrer, vencida pela idade. Então, o melhor e mais sério para a verdadeira história brasileira é deixar o deslinde dessas questões para os especialistas das universidades e centros históricos, renomados pesquisadores e escritores, que poderão executar com profundidade e conhecimento essa importante tarefa, sem qualquer viés político, ideológico ou eleitoreiro. Esses profissionais terão condições, inclusive, de analisar as motivações da ruptura institucional dos anos 60/70 e de esclarecer questões ainda pendentes como, por exemplo, que tipo de democracia pretendiam os insurgentes então apoiados por Cuba, União Soviética e outros regimes totalitários da época. Poderão, até, questionar contabilmente o que foi feito dos vultuosos recursos financeiros oriundos das ditas “expropriações” de bancos e empresas (que resultou em muitas mortes, inclusive de inocentes) e, em particular, da ajuda monetária recebida do exterior. O governo, que financia tantas ONGs, deveria destinar recursos a professores, historiadores, pesquisadores, especialistas e entidades de pesquisa de reconhecida capacidade, para proporcionar o levantamento da verdadeira História do Brasil, e não o simples repisar das histórias da ditadura ou dos seus opositores, carregada de emocionalismo e sobejamente conhecida. Qualquer tentativa de criminalização de uma parte, endeusando a outra, não atende às demandas do Brasil atual, que reclama por Saúde, Educação, Trabalho, Segurança e outros serviços públicos negligenciados. Os governos e o parlamento têm o dever de cuidar disso. Aqueles que, ideologicamente, tentam incriminar os repressores do passado, não podem se esquecer que muitos dos seus pares também pegaram em armas, mataram, torturaram, assaltaram, seqüestraram e foram beneficiados igualmente pela Anistia. Revogá-la é reabrir as feridas do passado, o que pode satisfazer seus egos, mas de nada servirá para as novas e as futuras gerações. Às novas gerações, temos o dever de levar a verdadeira História do Brasil, pesquisada e comprovada, jamais as estórias... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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