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Opinião
16/12/2013 - 17h25
Como pacificar a USP
Hélio Nogueira da Cruz
 

A Universidade é uma instituição milenar que tem papel de protagonista na evolução da sociedade. A USP tem se caracterizado ao longo de seus oitenta anos como agente ativo de reflexão e transformação; é hoje a principal referência brasileira no ensino superior.

Neste momento, a USP enfrenta novos desafios. Além de garantir a excelência do ensino e de sua produção científica tecnológica e cultural, entende como seu compromisso trazer para o seu interior a diversidade cultural, étnica e socioeconômica que caracteriza nossa sociedade.

O compromisso assumido pela USP em 2013 com a ampliação da inclusão social deve ser efetivado. Exigirá expressivo aumento do apoio às necessidades dos estudantes, não só para lhes facilitar acesso aos cursos, o que deverá sempre atender às exigências de mérito acadêmico, mas também para oferecer condições de permanência na universidade, sem as quais todo o esforço inicial pode se perder pelo caminho.

Também se espera da USP ampliação de vagas e expansão dos campi pela criação de cursos inovadores. Coordenar o processo de inclusão social e a demanda por mais vagas com o compromisso inalienável com a excelência acadêmica exige dos gestores de uma universidade como a USP mais do que voluntarismo, exige planejamento, que advém de experiência acadêmica e administrativa sólidas, aliado à harmonização das distintas visões que caracterizam e enriquecem a Universidade.

A Universidade moderna deve, também, responder com agilidade aos requisitos do setor produtivo e contribuir de modo relevante para o desenvolvimento do País.

A compatibilização dessas demandas requer experiência, serenidade e responsabilidade, inclusive e, principalmente, quanto ao equilíbrio financeiro. A autonomia financeira não equivale a um mandato para uso irresponsável de recursos públicos, portanto deve resistir a atitudes populistas e oportunistas. A transparência na aplicação dos recursos é mandatória.

Há o questionamento sobre a pouca participação nos processos decisórios da Universidade. É o reconhecimento do caráter inerente de sua diversidade que dá corpo à demanda de ampliar a representatividade de seu processo interno de decisão, incluindo, cada qual dentro de suas características, todos os seus setores docentes, discentes e técnico-administrativos.

A participação interna na eleição do reitor da USP aumentou significativamente com a recente alteração do seu Estatuto, em resposta, diga-se de passagem, a uma demanda coletiva e a uma discussão já travada há muito tempo e que agora se mostra madura para ser implementada. Entretanto, é preciso ainda avançar nessa direção e o primeiro passo, a ser dado logo no início da gestão que se iniciará em 25 de janeiro de 2014, é o de avaliar os resultados dessas modificações tendo como meta a ampliação do Colégio Eleitoral.

Sabemos que não há resposta única para uma instituição cujos valores essenciais estão intimamente ligados à diversidade de opiniões, de métodos, de teorias e de doutrinas. Compatibilizar essas demandas externas entre si, com as demandas internas da Universidade, constitui grande desafio. Se a USP não dedicar todas as suas energias a enfrentar seriamente cada uma dessas demandas, dificilmente poderá continuar reivindicando a legitimidade que estabeleceu o fundamento de sua autonomia.

A USP é herdeira legítima de uma tradição multicentenária que consiste essencialmente em cultivar, preservar e defender a liberdade, o direito ao livre debate e à livre expressão do pensamento. No período mais obscuro de nosso passado recente, manteve redutos intelectuais de grande importância, que se opuseram ao autoritarismo e constituíram referência no debate sobre a redemocratização do país.

Tem compromisso com o debate e a negociação, mas não pode abrir mão do respeito ao estado de direito e dos valores democráticos que caracterizam uma sociedade civilizada. Temos de garantir a manifestação de todos, mantidas as regras de convivência pacífica, indispensáveis à vida acadêmica e em comunidade. Radicalizações partidárias da vida universitária agridem normas básicas de convivência cívica.

É o momento de investir sistematicamente na busca da necessária pacificação, no trato sereno das questões polêmicas; é hora de valorizar o diálogo e a reflexão como meios, talvez únicos, de se buscar entendimentos. Em um local tão heterogêneo como a USP, não haverá consensos universais, mas trabalhando aquilo que melhor temos a oferecer à sociedade, isto é, a nossa capacidade de reflexão, poderemos avançar na direção que é comum a todos: educação e formação de excelência, criação de conhecimento, preservação e valorização de nossa cultura. Tudo isso voltado para o bem-estar da sociedade.


Nota do Editor: Hélio Nogueira da Cruz, 64 anos, economista, doutor pela Universidade de São Paulo, pós-doutor pela Yale University, professor titular da FEA e vice-reitor da USP.

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