As viaturas policiais de três importantes bairros de São Paulo – Paraíso, Ibirapuera e Vila Mariana – só podem rodar 40 quilômetros em cada turno de trabalho e, ao mesmo tempo, aumentam consideravelmente os roubos e furtos naquela área. A medida restritiva, segundo o noticiário, é decorrência da elevada quebra dos veículos. Para evitá-las e, provavelmente, para aumentar os recursos financeiros para a próxima campanha eleitoral, optou-se pelo absurdo de manter a frota estacionada. É uma típica medida de burocratas, que nada têm de intimidade e nem responsabilidade com a segurança pública, mas acabam tendo ingerência nesse importante setor. Pelo que conheço da Polícia Militar – onde fiz toda a carreira profissional – uma restrição operacional dessa ordem jamais seria gerada dentro da corporação, onde todos conhecem a importância da presença do policial nas ruas e da sua locomoção. Sabemos, no entanto, que a corporação não é autônoma, pois faz parte da estrutura do governo estadual, que tem a atribuição de mantê-la. Daí não é difícil concluir que algum iluminado com assento em gabinete refrigerado e cercado de toda segurança tenha inventado essa inconveniente ordem de serviço, preocupado apenas em economizar recursos e posar de bom administrador perante seus superiores, entre os quais o próprio governador do Estado. As polícias têm funções específicas, previstas em lei. Veículos, uniformes, armamento, equipamentos de segurança, comunicação e outros recursos fazem parte do conjunto. De nada adiantará ter o policial trabalhando numa área sem poder utilizar sua arma, rodar com sua viatura ou desenvolver qualquer atividade que o momento e as circunstâncias exijam. Ao governo é bom entender que polícia não é uma linha de produção, onde se pode cortar, diminuir ou aumentar a atividade. A ação do policial, quando preventiva, é ocupar uma área e demonstrar ao criminoso que ali está guardado e, quando em repressão, é perseguir os que já cometeram o crime até prendê-los e entregá-los à Justiça. Como fazer tudo isso se as viaturas têm de ficar paradas? O aumento dos roubos e furtos é o indicativo de que a viatura parada não deu certo. Por conta dessa indevida economia, a população fica à mercê dos bandidos. Nas cidades do interior, graças às denúncias da imprensa vigilante e às ações firmes do Ministério Público, prefeitos e administradores locais são chamados à responsabilidade e punidos quando cometem inconformidades. Infelizmente, isso não tem ocorrido com os governantes da União e dos Estados; mesmo com os mensalões, sanguessugas, máfias (do trem e do asfalto e outras), tantas irregularidades denunciadas e até com os autores condenados pela Justiça, eles não tomam as providências saneadoras. Nos quartéis aprendemos que ordem absurda não deve ser cumprida. Essa, de parar as viaturas, é uma delas. Revogue-se já! Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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