Não trabalha e nem estuda. Mais de 30% dos jovens do mundo em idade de fazê-lo. Grande parte concluiu o curso médio. Sem perspectivas intelectuais ou materiais de cursar uma universidade. Têm dificuldades, neste imenso Brasil dotado de condições geopolíticas mais favoráveis que a de outros países de territórios menores, ou de construções sociais já concluídas, de resgatar lugar ao sol num comprimido mercado de trabalho. Entre nós não estamos num beco sem saída. Não encontramos saídas por inépcia, corrupção e outras mazelas que desbastam nossas governanças. O estudo sempre é possível, desde as idades mais tenras até o último suspiro. Certo é que nem todos são igualmente propensos ao conhecimento e só dependem de estímulos, como, equivocadamente, um dia se pensou, e era divulgado pelos igualitaristas que deram com os burros n’água. As discrepâncias neuronais são inegáveis. A má alimentação na primeira infância compromete o desenvolvimento cerebral, mas é reparável, não só por métodos exógenos, mas também por inclinações endógenas. Estão aí autodidatas provenientes dos mais cáusticos e miseráveis ambientes. O primeiro ponto está em tornar mais acessível o acesso à educação, inclusive superior, sob o ângulo financeiro. Fórmulas existem e são conhecidas. Basta que as instituições de ensino efetivamente comprometidas com o destino de nossos irmãos se disponham a correr riscos, sem os quais nada se faz. O segundo está em afastar o assistencialismo ilusório e pessoalmente degradante das cotas e incentivar, sob todos os aspectos, a partir do material, a abertura universal de oportunidades, a meritocracia. Lembro-me de uma velha professora primária de escola pública que nos dizia que nada melhor que uma reprovação; desde que, obviamente, não se veja na permanência na escola um modo de enfrentar problemas sociais que devem ser vistos sob outros enfoques. O terceiro está no estímulo. Um péssimo exemplo foi dado aos brasileiros por um ex-presidente, que muitos que com ele querem comodamente identificar-se, ao fazer a apologia do pedestrianismo cultural, ao passar a ideia enviesada de uma contracultura que nega a experiência de todas as civilizações; ler dá azia, quem tem conhecimentos tende a integrar uma elite exploradora. Nada mais nobre do que o melancólico e triste, para usar as referências do filósofo italiano Domenico Di Masi, do que o chão da fábrica, origem de nosso líder que, a exemplo de Stálin e Mao Tsé Tung, em breve ficará imerso nas cinzas de um período de atraso. Os educadores, políticos e todos aqueles comprometidos com o mais essencial de nosso desenvolvimento, devem cotidianamente passar às novas gerações o sentimento do valor e da beleza do conhecimento. Depois de romperem as barreiras do acesso à empatia da educação e da cultura, para nossos jovens o resto será pura consequência, espontânea ou imposta aos carecedores de moral e compromisso público. Se sofrem de um mal bifronte, nossos jovens da geração nem-nem conseguirão superá-lo por essas e outras medidas educacionais e culturais. Passar por uma revolução cultural positiva. O nome não é bom, dado o que se viu na China, nada semelhante ao que acima foi exposto. É o emprego da força de atração, não só da juventude, mas das pessoas de todas as idades, para o mundo do conhecimento. Aos poucos todos assimilarão que ele propicia a mais avançada forma de lazer de nossa espécie. E de desenvolvimento e erradicação da miséria. Pretender superar o impasse por meio da criação de oportunidades profissionais também é obviamente válido, mas não significa a abertura de empregos precários, mal remunerados e embrutecedores. Nota do Editor: Amadeu Roberto Garrido de Paula é advogado.
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