Seu Quintino saiu do nada. Começou puxando carrinho de mão. Parece que ainda o ouço passar debaixo da nossa janela com o tilintar de ferro com ferro e a mesma cantilena:

- Compro alumínio, cobre, garrafa e sucata (sempre nessa ordem).

Como menino pobre, fui seu fornecedor, e ele meu patrocinador exclusivo dos primeiros doces e picolés de minha infância distante.

Tempos depois, ele já tinha uma carroça puxada por uma égua branca chamada Esperança (parecia premonição). Depois um caminhãozinho velho, até que prosperou. Um lote vago em frente a sua casa se transformou numa montanha de ferro velho, onde uma romaria de homens e meninos, carroças e caminhões, formava aquele “formigueiro” que fez do Seu Quintino um homem rico.

Construiu uma bela casa e manteve a mesma rotina de homem simples. Um dia Seu Quintino recebeu de uma fazenda, um caminhão lotado de sucata. Era pedaço de arado, carcaças de Jeep e até um alambique aos pedaços, que deu origem a esta crônica e aos fatos a seguir. O fato é que ele cismou de recuperar o alambique e o fez com capricho, transformado em seu único hobby. Produzia uma cachaça que mais parecia uísque (garrafa é o que não faltava). Estocou pilhas da bebida.

Mas num domingo, ao voltar da missa, viu com espanto, sua casa cercada por viaturas da “Polícia Federal” com armamento pesado. Foi preso e algemado. Deu até no jornal: - “Desbaratada destilaria clandestina.” Foi a julgamento. Em Audiência de Instrução, Dr. Brochado, o defensor público foi duro:

- Pra mim, de nada valem os protestos de inocência do réu, pois o simples fato da descoberta daquele ferramental clandestino é prova inegável do ato criminoso, e essa conversa que comprou como sucata não me convence. As ferramentas apreendidas são a prova do delito!!!

Aí Seu Quintino saiu com essa:

- Desculpe, excelência, agora só falta o senhor me culpar pelo estupro ocorrido aqui na semana passada!

- Ah! Então o senhor está metido nisso também, né?

- Não, excelência, mas eu tenho a FERRAMENTA pra isso.