Desde que as chuvas de verão chegaram – um fenômeno natural e com consequências perfeitamente previsíveis – infelizmente, já se contabiliza dezenas de mortes e milhares de desabrigados e flagelados pela água. E o governo só aplicou 15,56% das verbas destinadas aos seus 22 programas emergenciais de contenção de encostas, drenagem e manejo de águas. Havia a previsão de investir R$ 2,47 bilhões, mas só R$ 384 milhões foram requisitados. Diante desses números fica fácil entender porque as populações atingidas já não confiam mais quando, na hora da tragédia, governantes, políticos e assemelhados lhes prometem casa, assistência e outros serviços que recomponham suas vidas assoladas pela água. É largamente conhecido o raciocínio do burocrata, que rejeita as formas fáceis de solucionar os problemas, optando pelas difíceis e, preferencialmente, demoradas. Os políticos, interessados apenas nos holofotes e nos votos das próximas eleições, não costumam se interessar por essa malfadada forma de procedimento enraizada na máquina pública brasileira e, por isso, aquilo que prometem não se cumpre e a classe resta, cada dia mais, desacreditada perante a opinião pública. Mas, lamentavelmente, o povo não contabiliza eleitoralmente sua decepção e continua votando naqueles que os enganam, pois eles dispõem de marketeiros pagos a peso de ouro para a construção de sua boa e enganosa imagem. Desde a infância e juventude – que já vão bem distantes – tenho assistido o círculo vicioso das águas devastadoras e das promessas fáceis. É a tragédia anunciada de todos os finais de ano gerando noticiário e promessas das autoridades que, a prática demonstra, logo se esquecem de tudo, só voltando ao local no ciclo seguinte. Pouquíssimas obras têm se realizado durante o período da seca para evitar a tragédia das próximas águas. Os governos voltam suas baterias para outras questões e, aparentemente, até os flagelados esquecem do ocorrido e, acomodados, esperam pelo próximo dezembro. A presidente Dilma Rousseff assinou a Medida Provisória que apressa a liberação de verbas destinadas às catástrofes. Mas só isso é insuficiente. A solução do problema das águas passa pela distribuição de tarefas entre União, Estados e municípios e permanente cobrança de resultados, sem observância das próximas eleições ou de compromissos político-eleitorais. O manejo das águas é tarefa longa e continuada, que extrapola o tempo de um, dois, três ou governos. Sem continuidade e imunidade – aos interesses eleitoreiros – não se chegará à solução... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
|