Levantamentos do IBGE, interpretados por respeitáveis órgãos, indicam que, nos últimos dois anos, o setor industrial brasileiro fechou mais de 200 mil postos de trabalho. E que os trabalhadores demitidos da indústria migram para o comércio e a prestação de serviços onde, nem sempre, se adaptam ou encontram níveis de remuneração compatíveis. É o lado perverso da economia que, por razões diversas – robotização, globalização, educação falha e outras – dificulta a absorção de jovens ao mercado e atropela o trabalhador já estabelecido antes que este atinja o tempo para aposentadoria. Iniciativas, como as da Fiesp e do Senai, que focam a formação de jovens na direção da necessidade do mercado onde se encontram instaladas suas unidades, são de alta relevância. Precisam, no entanto, ser seguidas por outras entidades de segmentos diferentes e, principalmente, o governo, que deveriam investir séria e organizadamente na preparação e reciclagem da mão-de-obra para as respectivas áreas e que, de preferência, os trabalhadores não fossem obrigados a mudar de ramo. Se isso acontecesse, que fosse por atrativo e meio para melhorar de vida, não algo compulsório como hoje ocorre. Muito se tem falado, na propaganda oficial, sobre os cursos profissionalizantes médios e universitários gratuitos. Mas pouco se vê de resultados concretos dessas escolas, criadas a toque de caixa, com finalidade político-institucional. Seria interessante questionar o que fazem os formados das escolas que os governos espalharam pelas cidades com o discurso de preparar a mão-de-obra e oportunizar ao jovem o mercado de trabalho. Qual o percentual de formados que conseguiu emprego em função da sua formação? É preciso deixar o discurso meramente político e partir para ações integradas. A política econômica tem de ser favorável e incentivadora à manutenção dos negócios. A formação de mão-de-obra - financiada pelo suado dinheiro do contribuinte - não pode ter por objetivo a maligna ostentação governamental ou de grupos políticos. Há que se estabelecer vínculos para que, de um lado, não se forme profissionais desnecessários, enquanto de outro, temos a indústria, o comércio e o setor de serviços carentes de outro tipo de mão-de-obra. Se todos não executarem a mesma “música”, essa orquestra continuará desafinada... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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