A constatação de que só 417 dos 5570 municípios brasileiros arrecadam mais do que gastam com a própria manutenção é vergonhosa, e providências precisam ser tomadas. Com raríssimas exceções, esses lugares que não se sustentam jamais deveriam ter sido elevados de distrito a município. A emancipação, carente de ser repensada, na expressiva maioria dos lugares, só serviu para a criação dos cargos de prefeito, vice-prefeito, vereadores, diretores e chefes de serviços municipais. Toda essa casta não existiria (e nem sangraria o erário) se as localidades continuassem como distritos agregados aos seus municípios-base. Apenas uns poucos servidores dariam conta de tudo, e os recursos, já escassos, poderiam ser aplicados integralmente em saúde, educação, trabalho e outros serviços de interesse da população. É verdade, também, que não haveria essa casta de dirigentes municipais de chapéu na mão que hoje sustentam os currais eleitorais de caciques parlamentares que, por suas vezes, vendem os seus votos na constituição das maiorias que os governos precisam para aprovar suas leis nas Assembléias Estaduais e na Câmara dos Deputados. Logo, a legião de prefeitos, vices e vereadores de municípios miseráveis constitui exclusivamente a massa de manobra dos governos e da própria classe política. Todos eles são remunerados pelo dinheiro que poderia estar servindo ao povo e, para fazer algo em favor da população, dependem das discutíveis emendas parlamentares e das insuficientes verbas ou financiamento que conseguem politicamente em Brasília ou nas respectivas capitais estaduais. O Brasil, hoje, precisa mudar seu jeito de constituir e manter os governos. Não dá mais para os que ganham as eleições, logo no dia seguinte, saírem comprando os derrotados através de cargos e benesses pagos com o dinheiro do povo. O próprio povo já entendeu isso e, por essa razão, faz péssimo juízo da classe política. Quanto aos municípios deficitários, o bom seria apoiá-los para que se enquadrem e, passado um prazo, se isso não vier a ocorrer, retorná-los à condição de distrito, de onde nunca deveriam ter saído... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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