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Opinião
23/03/2005 - 13h00
Nos vinte anos da Nova República
Raymundo Negrão Torres - MSM
 

A distensão lenta, gradual e segura imaginada por Geisel estava caminhando para dar com os burros n’água e acabaria em legítimo "arrombamento". A crise exacerbava as críticas ao regime e a solução Aureliano é "rifada". Petrônio Portela, ministro da Justiça de Figueiredo, morrera e com ele as articulações políticas necessárias para garantir a transição para um presidente civil, eleito indiretamente pelo Colégio Eleitoral onde o governo tinha tranqüila maioria, habilmente montada por Geisel. Em setembro de 82, o constrangimento da dívida externa chegava ao seu ponto crítico, apesar das inúmeras Cartas de Intenção mandadas pelo Delfim ao FMI. Eleições diretas e Constituinte eram apresentadas ao povo como panacéias milagrosas. O grito de "diretas-já" dá lugar ao de "Tancredo-já".

O Partido Popular, cuja criação fora incentivada por Petrônio Portela, que via em Tancredo Neves a chamada oposição confiável, fora engolido pelo PMDB que colhia os frutos das divergências na área governista. O PDS, dividido e enfraquecido, parte para a convenção que escolheria seu candidato entre Andreazza, bafejado por certa área oficial, e o esperto Paulo Salim Maluf, ex-governador de São Paulo. Maluf ganha a convenção, mas racha o partido e sela definitivamente a entrega do poder à oposição, já agora reforçada por uma dissidência do PDS, num casamento de conveniência que faria de José Sarney o vice na chapa de Tancredo. Não havia dúvida do resultado do Colégio Eleitoral. Tancredo estava eleito e o sintoma mais claro disso foi a adesão com grande antecedência de Roberto Marinho ao candidato de oposição.

Quem chegasse à Capital Federal no dia 15 de janeiro de 1985, encontraria Brasília "ébria" de democracia com a eleição indireta de Tancredo Neves. O que ninguém poderia imaginar é que, por artes do destino, dois meses depois, Figueiredo teria que sair pela porta dos fundos do Palácio do Planalto para não dar posse ao vice José Sarney, inesperadamente colocado na curul presidencial que Tancredo jamais assumiria, tornando-se a "viúva Porcina" da salvação nacional: o que foi, sem nunca ter sido.

A Nova República mostrava assim sua primeira surpresa. E o destino estava armando mais um dramático capítulo da nossa "maldição dos vice-presidentes". A morte de Tancredo Neves entrega o leme da Nação a um homem indeciso, politicamente inescrupuloso, despreparado e vaidoso. Serão cinco anos de frustrações, equívocos e de "pajelanças" dos economistas do PMDB que nos levam à hiperinflação, agravadas pela monstruosa empulhação da Constituição-cidadã do Dr Ulysses. Estava preparado o palco para o surgimento de um novo salvador da Pátria. O jovem Collor é um furacão a derrubar partidos e velhas lideranças, empolgando descalços e descamisados e ganhando a adesão da burguesia temerosa do discurso trotsquista de Lula e sua CUT. Para reforçar sua posição no importante colégio eleitoral das Alterosas, forma sua chapa com Itamar Franco, um velho e descolorido político de Minas.

Collor, o primeiro presidente a ser eleito pelo voto direto 30 anos depois de Jânio, enfrentou o dilema do impedimento ou da renúncia, aos golpes cada vez mais demolidores da esquerda que derrotara, aos quais vieram juntar-se os ressentidos pelos interesses contrariados e os oportunistas. Trouxera grandes planos e muitas e inabaláveis certezas. De um lado, o paradoxo de um Presidente, eleito para acabar com os "marajás" e com os corruptos, que se deixa envolver por uma sórdida malta de aproveitadores e de arrivistas. De outro, a surpresa no programa de governo do jovem Collor que acabou com o anonimato fiscal e com os títulos ao portador e tentou abrir e arejar a economia com o choque da concorrência que punha em xeque as reservas de mercado dos trustes nacionais e das estatais ineficientes.

Não adiantou chorar depois da queda do Collor. Lentamente se foi formando um consenso de que nos saiu pior a emenda que o soneto. Trocamos um presidente não confiável por outro, incompetente e destrambelhado. E começam a ficar mais evidentes as verdadeiras razões que se escondiam por trás da orquestrada unanimidade anti-Collor.

O Congresso, síntese e representação de uma elite que cada vez mais se refugia atrás de muros e grades, com medo da "revolta dos miseráveis", prossegue em seu caminho de inércia, insensibilidade, casuísmo e desapreço pelo destino do povo. Diligentes e rápidos na reposição de seus já polpudos subsídios, esqueciam a assiduidade e a eficácia demonstradas no episódio da derrubada de Collor.

Enquanto isso, o tigre da inflação, adestrado pela prática de décadas de exercício e vacinado por inúmeros planos e inócuas pajelanças, continua a devorar suas vítimas indefesas: os salários dos que menos têm, imune aos tiros disparados por caçadores inexperientes ou incompetentes.

Desse cenário angustiante haveria de surgir um "novo salvador da Pátria", disposto ao sacrifício mortificante do Poder. Tudo indicava que desta vez seria Lula, mas veio o Plano Real, inteligente obra de reengenharia da moeda, que, aproveitando sabiamente os equívocos dos inúmeros planos anteriores, levou às culminâncias das pesquisas eleitorais o seu mentor. Contrariando as previsões, confirma-se a reviravolta que o grande "cabo eleitoral" - o Real - promoveria nas pesquisas, e no dia 3 de outubro de 1994 elegemos para a Presidência da República o nosso segundo Fernando que chega pedindo que esqueçam o que ele escrevera.

Seriam oito anos de vacilações e inércia em que FHC, o novo "joão batista" da política, sempre sorridente, endireitaria as veredas por onde nos viria um novo "messias" da salvação nacional. E o resultado é o que aí está.


Nota do Editor: Raymundo Negrão Torres é militar reformado e pertence ao Instituto Histórico e Geográfico do Paraná.

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