— Lud!
— Diga, vovó!
— Meu cabelo tá detonado, não tá?
— De-to-na-do? Quê isso, vó?
— Detonado quer dizer...
— Vovó, eu sei o que significa detonado!
— Ué, cê perguntou “Quê isso”, eu pensei que não sabia, Ludmila!
— “Quê isso” é o seu modo de falar, vovó!
— Ih, Lud! Quê que há?
— Sei lá, achei esquisito você falar “detonado”...
— Seria por causa dos meus 80 aninhos?
— Vovó! Não é isso!
— Então é o quê?
— Sei lá, eu já disse!
— Puxa, com esse “Sei lá”, cê tá sendo vaga pra caramba!
— “Pra caramba”?! Não tô dizendo, vó?
— Xi!!
— É esquisito, você falando “Pra caramba”!
— Hum... Confessou!
— Confessou... Confessou o quê?
— Preconceito!
— Preconceito? Eu?
— Não é preconceito... Hum, fiquei boladona agora!
— Vovó, pelo amor de Deus! Boladona?
— Ai, Lud! Se liga! Seja mais light!
— Eu não sou light, nem nunca vou ser, tá?!
— Pois ia ficar manêra, sabia, Lud?
— Ai, Jesus! Só faltava essa! Manêra!
— Ué, cê tem 23 anos, gatinha!
— Vovó, com quem você tem andado?
— Que eu saiba, com ninguém que você não saiba!
— Não pode ser!
— O quê?
— Alguém tá por trás disso! Será a tevê?
— Que tevê? Já tô sacando é de internet, menina!
— Não é possível!
— Xi, o tempo fechou, hein?
— Não sei por quê!
— Fica fria, tá? Vovó tá de boa!
— Como posso ficar fria? Se te escutam...
— Vão te zoar por causa de sua avó?
— Vó!!
— Cê é sangue bom, menina! Sai desse bode!
— Nossa! Agora doeu!
— Ah, capricha no look, bota uma beca, vai dar um rolé, vai!
— Eu? Dar um rolé?
— Vai nessa! Cê vai causar!
— Desisto!
— Ah, cê tá careta, Lud! Vou vazar, morô?
— Epa! Careta? Morô? Isso é mais do seu tempo, vó!
— Ih, sartei! Que papo paia, menina!