Do ponto de vista médico, dormir com outra pessoa pode acarretar em problemas para o bom desempenho do sono e, consequentemente, para as atividades diárias
Dormir junto é um hábito recorrente na vida a dois, aliás, é tão comum quanto respirar. E, assim como respirar, dormir é um fator muito importante e decisivo na garantia do bom desempenho de nossas atividades diárias. De forma cíclica, o sono apresenta vários estágios, que vão desde o sono leve, até o sono profundo e, durante essas etapas, ocorrem diversos processos metabólicos, que garantem a recuperação e o desenvolvimento do corpo. O sono é conduzido por mecanismos internos (endógenos) do organismo, conhecidos como relógios biológicos, que podem variar de pessoa pra pessoa. Além deste fator, o ambiente externo também está ligado diretamente à qualidade do sono, pois a temperatura do local, o nível de silêncio e os movimentos da pessoa com quem se divide a cama, por exemplo, influenciam na maneira de dormir. Portanto, do ponto de vista médico, é aconselhável separar os corpos para se ter uma noite tranquila de sono. Na vida a dois, muitas incompatibilidades noturnas contribuem para que o sono seja afetado quando se decide dividir o leito, como, por exemplo, discordância nos horários de ir para a cama, necessidade de mais ou menos luz, temperatura do ar condicionado no quarto, uma vez que cada pessoa tem seu grau de temperatura perfeito, e alguns casos comuns como briga pelo cobertor, espaço na cama, ou ainda, a presença de TV e outros aparelhos eletrônicos no local. Outros fatores efetivamente ligados ao ato de dormir que também atrapalham o casal são roncos, apneia do sono (pausas de respiração noturna) e os chamados “microdespertares”. Quando o sono mais profundo e restaurador (REM) é interrompido e a pessoa chega a uma etapa superficial em que ela quase acorda, mas não percebe, como por exemplo, mudar de posição na cama ou ranger os dentes, ela entra em um estado de semiconsciência e logo volta a dormir. Desta forma, quanto mais microdespertares a pessoa tiver durante a noite, mais cansada ela vai levantar no dia seguinte. Os adultos podem ter, em média, de 20 a 30 microdespertares e dividir a cama chega a dobrar esse número. Pesquisas mostram que a qualidade do sono é melhor quando um adulto dorme sozinho e mesmo que a maioria das pessoas prefira manter a tradição e dividir os lençóis, já há casais que resolveram se separar durante a noite para terem um dia melhor. Ainda que dormir sozinho seja a melhor alternativa, medidas simples podem auxiliar no bom funcionamento do mecanismo que leva ao sono do casal, como o cuidado contínuo com o parceiro, respeitando as diferenças que existem e entrando em acordo com relação a elas. Tentar fazer pouco barulho ao acordar para não perturbar o outro, usar protetores para os olhos e auriculares para evitar que a luz ou ruídos o despertem antes da hora, cuidar dos problemas individuais, como rinites, asma, roncos, apneia e insônia, manter um ambiente calmo antes de iniciar o sono e evitar a presença excessiva de luz dentro do quarto na hora dormir são ótimas ferramentas para quem deseja dormir melhor mas ainda não está disposto a fazer isso sozinho. Nota do Editor: Dra. Angela Beatriz Lana é formada em Medicina pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Otorrinolaringologista pelo Hospital das Clinicas da UFMG. Especialização em Medicina do Sono em dezembro de 2009 pela AFIP (Instituto do Sono). Fellowship em Actigrafia – Med. do Sono, no Hospital Hotel Dieu em Paris- 2010. Fellowship em Cultura de Condrocitos, Erasmus University em Roterdam 2010-2011. Médica na Comunidade Europeia pela Universidade do Porto – Grau de Mestre, tese: Sonolência excessiva diurna – 2011.
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