Até a virada dos anos 80 para 90, não se ouvia falar em crime organizado, facções criminosas dominando presídios, milícias ilegais, áreas onde a polícia não pode entrar, violência exacerbada, sequestro relâmpago, assalto em avenidas movimentadas, saidinha de banco, cracolândia e muito menos em ‘black blocs’ ou ‘rolezinhos’. Os criminosos mais comuns eram batedores de carteiras, estelionatários e outros de forte astúcia e baixa violência. As ocorrências violentas restringiam-se aos crimes passionais ou às desinteligências, na maioria das vezes potencializadas pelo consumo do álcool. O cidadão saía às ruas despreocupado e não precisava cercar suas moradias com grades, alarmes e dispositivos eletrônicos. Muitos ainda cultivavam o antigo hábito da cadeira na calçada para a boa conversa com os vizinhos no fim de tarde e começo de noite. O interior, então, era a paz absoluta e o ideal de vida de muitos habitantes da capital que vieram fazer a vida no grande centro e sonhavam a volta às origens. Hoje tudo está mudado. Vivemos em situação de pânico, com de se deslocar para o trabalho, famílias sendo assaltadas no arrastão a restaurantes, ônibus e trens incendiados ou depredados. Até o esforço social de desarmar a população deu em nada, pois não se conseguiu o mesmo em relação aos bandidos e estes, hoje, agem na certeza de que sua vítima não tem com que se defender. Os veículos, que agregam tecnologia antifurto, tornam-se perigosos porque, não conseguindo furtá-los, os ladrões os tomam de assalto ao interceptar seus condutores em via pública. Daí o confronto que muitas vezes termina em latrocínio, com a vítima morta. As casas não são mais furtadas mas assaltadas e seus moradores subjugados, agredidos e até mortos enquanto os marginais levam seus pertences. O sonho – comum antigamente – de possuir uma chácara ou sitiozinho – tornou-se pesadelo, pois quadrilhas as invadem e roubam tudo, da mesma forma que explodem os caixas eletrônicos e levam todo o seu dinheiro até em diminutas localidades interioranas. Tudo isso nos torna uma população amedrontada. O país cresceu economicamente – é a sexta economia do mundo – mas o povo, apesar de toda propaganda oficial, vive mal. Somos o 85º país do mundo em IDH (Índice de desenvolvimento Humano) medido pelo ONU, ao lado dos países mais atrasados ou convulsionados do planeta. Agora surge a revelação de que somos o 8º país do mundo com maior número de analfabetos. Toda essa controvérsia nos conduz inexoravelmente a uma pergunta: ONDE FOI QUE ERRAMOS? A busca da resposta é imperativo nacional. Identificando-se as causas certamente será mais fácil buscar as soluções... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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